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Desporto

Varsénia da Luz: “A Dona da Bola”

Dos campos de terra do bairro da Ribeirinha, em São Vicente, à Selecção Nacional de futebol feminino. É de Varsénia da Luz que estamos a falar, “A Dona da Bola”. “Enquanto criança não, mas quando comecei a jogar futebol nos campeonatos regionais, em São Vicente, ouvia algumas conversinhas. O preconceito sempre estava lá, directa ou indirectamente”, afirma.

O futebol feminino em Cabo Verde ainda procura o seu lugar ao sol, pois este é, por tradição, um desporto que tem sido predominantemente praticado por homens.

As mulheres, querendo mudar as regras do jogo, enfrentam desafios para terem as mesmas condições que os atletas masculinos, bem como a precariedade da maioria dos clubes e a falta de visibilidade.

Mesmo com essas adversidades, mulheres como Varsénia da Luz não se têm afastado das quatro linhas. Afinal, tal como acontece no masculino,

a garra e a persistência são das principais características mentais exigidas para se alcançar o sucesso no futebol feminino, mesmo que seja ainda ao nível amador.

Uma das capitãs da Selecção Nacional

Actualmente, Varsénia da Luz, de 29 anos, é a lateral direita do Seven Stars (Praia-Santiago) e uma das capitãs da Selecção Nacional.

Natural da ilha de São Vicente, a entrevistada do A NAÇÃO conta que começou a dar os primeiros toques na bola ainda criança junto com os rapazes

e raparigas da vizinhança e no campo de terra da Ribeirinha, bairro onde cresceu.

Aos 16 anos, com o apoio da família, conciliou a escola e o futebol para ingressar no Ribeirense FC, de São Vicente, clube pelo qual participou no seu primeiro campeonato regional.

“O meu maior sonho era ser uma jogadora profissional, até lembro que quando me perguntavam, respondia sempre isso.

O tempo foi passando e tive que andar por outros lados, mas nunca desisti do futebol”, confessa.

Actualmente Varsénia da Luz trabalha como administradora de sistemas no Núcleo Operacional para a Sociedade de Informação (NOSI).

Apesar de ainda não ter conseguido realizar o sonho de infância de ser uma profissional do futebol, continua a respirar a modalidade como uma das

principais jogadoras da equipa campeã nacional em título, o Seven Stars.

“Enquanto criança não, mas quando comecei a jogar futebol nos campeonatos regionais, em São Vicente, ouvia algumas conversinhas. O preconceito

sempre estava lá, directa ou indirectamente”, afirma.

Ganhos dos últimos anos

A discrepância entre o futebol masculino e o feminino praticado Cabo Verde é gritante.

Contudo, a nossa entrevistada prefere apontar os ganhos que a modalidade tem conquistado nos últimos anos, em razão do apoio da Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF), nomeadamente graças à implementação do Campeonato Nacional e da criação, em 2018, da Selecção Nacional feminina.

“Temos vindo a evoluir e a ter avanços graças à aposta que a FCF tem feito. Posso aqui destacar que, desde 2018, no campeonato nacional há prémios monetários tanto para equipas como individualmente. Isso chama-se reconhecimento pelo esforço, empenho e trabalho feito a nível colectivo e individual, e traz motivação e competitividade”, destaca.

Necessidade de maior aposta no futebol femenino

Segundo a atleta, o futebol feminino tem vindo aos poucos a conquistar o seu espaço, contudo alerta que ainda são necessárias melhorias quer em termos de condições de treino e jogos, quer ao nível das competições.

“Se temos as taças de cada ilha, a Taça da Liga, a Taça de Cabo Verde, entre outras competições, em masculino porque não temos o mesmo em femininos?”, questiona a futebolista que defende mais “igualdade e aposta” no futebol praticado por mulheres.

Necessidade de maior aposta no futebol femenino

Segundo a atleta, o futebol feminino tem vindo aos poucos a conquistar o seu espaço, contudo alerta que ainda são necessárias melhorias quer em

termos de condições de treino e jogos, quer ao nível das competições.

“Se temos as taças de cada ilha, a Taça da Liga, a Taça de Cabo Verde, entre outras competições, em masculino porque não temos o mesmo em femininos?”, questiona a futebolista que defende mais “igualdade e aposta” no futebol praticado por mulheres.

Importância da Selecção Nacional

O primeiro jogo de sempre da Selecção Nacional foi em 2018, frente à Guiné-Bissau. Cabo Verde acabou por perder (0-1) com as guineenses, mas o resultado não minimizou a importância daquele que foi um dia histórico para o futebol feminino crioulo.

Para a nossa entrevistada, a estreia de Cabo Verde a nível internacional foi uma espécie de divisor de águas, com um antes e depois.

“A criação da Selecção Nacional trouxe mais motivação para nós atletas. Para trabalharmos mais, pois é sempre um orgulho  e um prazer enorme representar o país”, afirma a nossa entrevistada.

A futebolista destaca, ainda, que representar a Selecção Nacional é uma oportunidade de levar o nome de Cabo Verde lá fora e de mostrar que o futebol feminino praticado nestas ilhas tem potencialidade para competir, “de igual para igual”, por exemplo, com outras selecções da União das Federações Oeste Africana (UFOA – sigla inglesa).

“A prova disso foi o caso da nossa primeira participação no torneio da UFOA realizado na Serra Leoa em 2020, onde ficá- mos no 4.o lugar num universo de oito selecções”, explica.

O advento da covid-19 impactou negativamente a sociedade nos mais variados aspectos, desde socioeconómicos, políticos, culturais e, claro, a desportivos.

Principalmente nas modaidades de natureza colectiva por envolverem uma logística maior, bem como o número de pessoas envolvidas.

Como já era de se esperar, o futebol feminino não fugiu à regra,

“Sem a pandemia já era difícil, imagina com a pandemia. O impacto a nível económico foi brutal e logo pairou o medo de não haver condições para dar seguimento ao futebol feminino”, pondera Varsénia da Luz que confessa estar aliviada com a retoma gradual das actividades desportivas no país.

Nas próximas semanas a jogadora estará em acção no torneio “Natal 2021” que decorre desde o passado dia 6 de Novembro a 19 de Dezembro, promovido pela Comissão Regional de Futebol Feminino em Santiago Sul (CRFFSS) envolvendo 12 clubes da Cidade da Praia. nomeadamente, Seven Stars, EFAT.

Maracanã, Delta, Kumunidade, Vila Nova FC, Ribeira Grande, EFSOD, Atletas de Cristo, Jovens Unidos, Safende Tudora e Bayer.

Palmarés Varsénia da Luz

– Campeã Regional São Vicente: Mindelense (2013, 2016, 2017, 2018);

– Campeã Regional Santiago Sul: Seven Stars (2019);

– Campeã Nacional: Seven Stars (2019).

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 743, de 25 de Novembro de 2021

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