PUB

Ambiente

Envenamento de animais na Praia: Espera-se punição exemplar

O aparecimento, na via pública, de animais mortos por envenenamento tem indignado associações e organizações de defesa dos animais, mas também a comunidade em geral. Ao que tudo indica, o veneno anda a ser colocado na via pública, misturado com ração para cães. Aguarda-se agora a intervenção das autoridades competentes para que a “punição seja exemplar”.

São, na maioria, cães, mas também há gatos, e já se registaram casos de aves e porcos. O caso veio a público pela primeira vez a 30 de Novembro, quando o Movimento para as Comunidades Responsáveis (MCR) divulgou denúncias de cidadãos cujos animais de companhia foram vítimas, ou então que registaram casos em animais de rua, em vários bairros da capital do país.

Até o dia 02 de Dezembro, a ONG tinha recebido mais de 20 denúncias. Entretanto, esta terça -feira, 07, a representante do movimento, Maria Fortes, garantiu que continuam a chegar ao seu conhecimento casos de novos envenenamentos, ocorridos em espaços públicos da cidade da Praia. Apesar de não ter um número exacto de todos os bairros onde os casos ocorreram, sublinha que, apenas no Platô, foram 25 animais mor- tos. Outros 15 foram registados em Caiadas, para além de casos pontuais em Palmarejo, Fonton, Palmarejo Grande (zona da Uni-Piaget) e outros bairros.

Segundo avançou, o veneno é colocado de forma indiscriminada, ao que tudo indica, misturado com ração de cão e que acaba por ser consumido também por outros animais.

“A denúncia foi feita à Polícia Judiciária, que ainda não entrou em contacto com o MCCR. O caso foi também denunciado à Delegacia de Saúde que ficou de investigar e ouvir os testemunhos ainda esta semana”, informou Maria Fortes.

O MCCR lembra que se tratam de vários “actos crimino- sos e muito perigosos para toda a saúde pública”, que merecem uma investigação urgente.

Atraso civilizacional

A Associação Animal Simabo, sediada em São Vicente, também tem acompanhado o caso, que, segundo a sua presidente, Silvia Punzo, mostra que ainda há muito trabalho a ser feito em matéria de proteção animal em Cabo Verde.

“É com grande tristeza que temos acompanhado essas notícias. É verdadeiramente lamentável e mostra o atraso em que está uma parte da sociedade cabo-verdiana nesta matéria. Mostra um lado negativo, assustador. Mas também vemos que outra parte desaprova, muitas pessoas estão muito indignadas. A partir delas e da legislação que já existe protegendo os animais, temos esperança que isso vai mudar”, declarou, em conversa com este jornal.

Para Sílvia Punzo, cofundadora da Simabo, um facto como esse mostra que “as pessoas que cometeram esse crime têm um grande défice de sentimentos e respeito pelos seres vivos, pela vida, pela natureza”, mas mostra, sobretudo, que há ainda um longo caminho a educar as pessoas para que aprendam a sentir empatia e respeito pelos animais.

“Se forem incapazes de sentir amor, que pelo menos sintam respeito pela vida e pelos outros cidadãos. Porque isso é um atentado não apenas contra os animais, mas contra todos os cidadãos”, alegou.

                       Ulardina Furtado

Fraca actuação das autoridades

Essa activista pelos direitos animais classifica de “fraca” a actuação das autoridades no que toca a crimes de maus tratos de animais em Cabo Verde, mas, acredita que agora, após a criminalização dos maus tratos contra animais de companhia, cuja lei foi aprovada em Maio, o cenário pode vir a melhorar.

“Agora existe uma lei em vigor, e a partir dela os cidadãos que defendem os animais poderão exigir a investigação dos crimes e a sua punição. Mas é preciso que as autoridades policiais não façam vista grossa”, exorta.

A mesma diz que se este crime não for punido de forma exemplar, a sociedade cabo-verdiana estará dando um péssimo exemplo às crianças e jovens que serão os adultos de amanhã. “A violência contra um animal indefeso é apenas uma face de uma atitude antiética, que favorece a violência e os maus tratos contra a criança, a mulher, o idoso, os mais vulneráveis de forma geral. Queremos ver essa violência ser combatida efetivamente, com actos”, precisou.

Do lado das câmaras municipais, ministérios, universidades, igrejas, empresas e outras entidades, a organização espera que cumpram o seu papel de responsabilidade social, nomeadamente na condenação do crime e que ajudem na redução da população de animais, através do apoio às organizações que atuam na castração.

Risco para a saúde pública

A Delegacia de Saúde da Praia também já está a par das denúncias e promete actuar, nos próximos dias, junto de outras entidades, tendo em conta a gravidade do acto, não só para os animais, mas para a saúde pública no geral.

Em declarações ao A NAÇÃO, a delegada de saúde, Ulardina Furtado, avançou que vai se reunir, esta sexta-feira, com o Movimento para as Comunidades Responsáveis, no sentido de se inteirar melhor do caso e implicar outras entidades no processo.

“É um caso grave para a saúde pública porque não sabemos qual a intenção da pessoa ou do grupo que está a fazer isso. Está a pôr em causa a vida de outros seres, a saúde da população em geral”, considerou a delegada, para quem, para além de cães, está em risco a vida de outros animais que circulam na rua, mas também das próprias pessoas, como doentes mentais e pessoas que vão buscar coisas aos contentores.

Câmara da Praia demarca-se e condena acto indigno

A Câmara Municipal da Praia demarcou-se da prática de envenenamento de animais na cidade, uma prática que considerou ser “desumano, indigno e incivilizado”.

Em comunicado divulgado esta quarta-feira, a CMP garante que “não tem absolutamente nada a ver com esta prática hedionda”, mas suscetível a aproveitamento político.

No documento, refere que a actual equipa camarária tem assumido a defesa dos direitos dos animais e a adopção de métodos de gestão mais adequados e aceitáveis, em conformidade com as diretrizes éticas, morais e técnicas. Relembrou ainda que, em Abril último, assinou um protocolo com a “Aliança para a Gestão Ética da População Canina e Felina” da cidade, instituição que zela pela protecção dos animais.

“A Câmara Municipal da Praia sempre esteve também engajada na organização e promoção de actividades em prol da melhor gestão da população canina no município tendo-se, para o efeito, estabelecido parcerias com a Associação Bons Amigos”, referiu.

A NAÇÃO também contactou a Ordem dos Médicos Veterinários, que, através do seu bastonário, preferiu não se pronunciar até que haja informações mais concretas sobre a investigação em curso. Já a Polícia Judiciária, junto da qual foi formulada a denúncia, não se manifestou até o fecho desta edição.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 745, de 09 de Dezembro de 2021

PUB

PUB

PUB

To Top