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Economia

TACV: Boeing arrestado da Icelandair acumula prejuízos há um ano parado na pista do Sal

Completa, em Junho, um ano que o Boeing 757 D4-CCG foi arrestado à Loftleidir Icelandic, por dívidas à ASA. A aeronave continua parada na placa do Aeroporto do Sal, acumulando prejuízos, que poderão ser ainda maiores, caso o ex-parceiro da privatização da TACV vencer o processo em Tribunal. Só em 2021, essa transportadora atingiu prejuízos de quase 1 milhão e 400 mil contos. A boa notícia é que, ainda que tímida, a “retoma” vai acontecendo.

À luz dos números, e apesar de alguns sinais positivos (ver caixa), a TACV permanece uma das empresas públicas que mais sorve o dinheiro do erário público, acumulando dívidas e empréstimos, muitos dos quais para pagar salários e fornecedores.

Só em 2021, ano em que o Estado “renacionalizou” a TACV, livrando-se da Loftleidir Icelandic, os prejuízos ascendiam a quase a 1 milhão e 400 mil contos. Isto numa altura em que a empresa começou a voar timidamente, apenas com um aparelho (alugado), desde final de Dezembro, do ano passado.

O único avião que sobrou de três

Rompido o acordo com os islandeses, em Junho do ano passado, entre outros pontos por resolver, resta (imobilizado na pista do Aeroporto do Sal) um dos três aviões alugados aos islandeses. A aeronave permanece, ao sol e ao vento, a degradar-se, faz em Junho um ano.

Segundo fontes do A NAÇÃO, no início do arresto, foi feito algum trabalho de “preservação” ao aparelho, todas as semanas, e, depois, passou-se para manutenções “a longo prazo”. Dado que as aeronaves foram feitas para voar, quanto mais tempo estiverem paradas, mais trabalhos de recuperação acumulam. É, pois, esta a situação do referido Boeing.

O aparelho, recorde-se, tinha sido alugado, em regime de leasing, à TACV, pela Loftleidir Icelandic, tendo sido arrestado, em Junho passado, face a alegadas dívidas da companhia, durante a gestão islandesa, à ASA, empresa que gere os aeroportos do país.

O processo, este, decorre os trâmites legais junto de um tribunal internacional, o que poderá levar o Estado a encaixar mais prejuízos, caso perder o processo, e, se além de ter de devolver o aparelho, ainda tiver de pagar uma indemnização.

Em situação oposta encontra-se a Loftleidir Icelandic. Caso vencer a parada, terá mais um lucro suplementar por um aparelho velho, à espera de ser mandado para o ferro-velho.

TAAG em auxílio

A outra certeza é que a TACV continua com uma retoma tímida, tendo agora a TAAG como principal parceira. O Boeing-737-700 chegou a 14 de Março a Cabo Verde, alugado, em regime de “wet leasing”, nos dois primeiros meses, ou seja, aparelho mais tripulação. Sendo ainda os angolanos da TAAG responsáveis pelo pagamento dos seguros e manutenção do aparelho.

Mas a ideia, segundo avançou na altura, Sara Pires, é que numa segunda fase o aparelho passe a funcionar em regime de “dry leasing”, ou seja, com as cores da Cabo Verde Airlines, tripulação nacional, sendo ainda que todo o serviço de manutenção passará a ser garantido por técnicos nacionais, assim como o seguro estará a cargo da TACV.

Percalço

Entretanto, a TACV já enfrentou o primeiro percalço com a TAAG, cujo avião sofreu recentemente uma avaria. Embora passageira, a avaria levou a parte cabo-verdiana a recorrer a uma transportadora da Croácia, para fazer uma ligação Lisboa/Praia/Lisboa, e assim honrar os compromissos com os passageiros. Estes, diga-se, levaram mais de 12 horas para chegar ao destino, com todo o desgaste que isso normalmente significa para quem quer viajar tranquilamente e conforto.

Boa aceitação

Tirando isso, segundo fontes do A NAÇÃO, os voos da TACV/TAAG estão a ter boa aceitação no mercado, especialmente na rota Praia-Lisboa-Praia, onde a ocupação tem estado acima dos 90%.

Também em relação à rota São Vicente/Lisboa/São Vicente a ocupação está “razoável”, entre os 75 e 80%.

Menos impacto tem tido a rota Sal-Lisboa-Sal, onde a ocupação se situa entre os 40 e 50%.

De notar ainda que, neste momento, a companhia já está com uma programação de seis meses para estas rotas. 

Nas últimas previsões anunciadas pela PCA da TACV, a partir de Julho a companhia conta duplicar o número de voos para Lisboa, a partir de Praia, São Vicente e Sal, não se sabe, para já com quantos aviões.

É que no final de Dezembro, após a assembleia-geral extraordinária, Sara Pires havia igualmente avançado a retoma dos voos entre Praia e Boston (Estados Unidos da América), no segundo trimestre deste ano. Uma rota assegurada, actualmente, pela SATA e TAP, que aproveitaram a oportunidade de mercado para impor os seus preços.

A previsão daquela gestora, na altura, é ter um novo aparelho no segundo trimestre deste ano afecto à TACV e três até final de 2023, para dar vazão às rotas.  

De aval, em aval, Governo tenta manter empresa de pé

Depois de mais de 12 milhões de contos em garantias e avales concedidos à TACV antes da renacionalização, a 6 de Julho do ano passado, o Governo continuou a injectar dinheiro na companhia para impedir o afundanço geral e cumprir pagamento de salários, como forma de manter viva a chama da retoma em curso.

Em Fevereiro deste ano, o Executivo autorizou mais um avale do tesouro público ao empréstimo da TACV junto da Caixa Económica de Cabo Verde, no valor de 165 mil contos, conforme publicado no Boletim Oficial, em de 27 de Fevereiro. 

A nova injeção viabilizava, na altura, o pagamento dos salários dos trabalhadores da TACV referentes a janeiro deste ano.

Na prática, a Resolução do Conselho de Ministros estabelece que o aval é válido por 12 meses e, de acordo com o mesmo Boletim Oficial, há uma outra resolução que relata por mais 8 meses o aval ao empréstimo anterior, no valor de 100 mil contos no mesmo banco, a Caixa Económica. 

Recorde-se que em Março de 2019, o Estado vendeu 51% das acções da TACV por 1,5 milhões de dólares à Lofleidir Cabo Verde. O Estado cabo-verdiano ficou na altura com 39% e 10% foram colocados à venda para emigrantes cabo-verdianos, sendo que o empresário Victor Fidalgo é o maior accionista dessa quota dos 10%.

Entretanto, devido a alegados incumprimentos dos islandeses, o Estado, decidiu resgatar a empresa, por assim dizer, renacionalizando os TACV ao reaver 51% das acções da companhia, passando a ser o accionista maioritário, novamente, com todos os custos, preocupações e desafios que a empresa acarreta, continuando com uma carga de recursos humanos pesada. 

Ainda sobre a situação financeira da TACV ver o artigo “Empresas do Estado em elevado risco fiscal”, na página 4, desta edição. 

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 765, de 28 de Abril de 2022

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