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Fogo

Jovem Engenheiro Alimentar do Fogo enfrenta desemprego com aposta no fabrico de sabão natural

Licenciado em Engenharia Alimentar pela Universidade Pública de Cabo Verde (Uni-CV), “Adilson Cardoso”, como é carinhosamente tratado na comunidade de Ponta Verde, confessa ser um apaixonado pela sua Ilha-Natal (Fogo), sobretudo devido às suas potencialidades “sui generis” e que “só existem nesta parcela do território nacional”. Por isso, quer contribuir para o aproveitamento do potencial da Ilha do Vulcão.

“Sou igual aos demais jovens e gosto de fazer coisas simples da vida como passear, jogar futebol, ver televisão”, autodefine-se, acrescentando que é, também, “um jovem cheio de ideias e sonhos”, que já começou a implementar. 

Aposta na ilha-natal

Depois de concluir a formação e consciente das condições do país e das dificuldades em encontrar emprego na sua área, Engenharia Alimentar, na ilha do Fogo -, “Adilson Cardoso”, não obstante algumas propostas de emprego na Cidade da Praia, não hesitou, em nenhum momento, no seu regresso à “Ilha do Vulcão”, para começar a implementar os seus sonhos.

“Fui um pouco atrevido e arrisquei a vir para o Fogo, sem ter garantia de emprego, na tentativa de criar a minha própria empresa, para ajudar no desenvolvimento e engrandecimento da Ilha”, confessa esse jovem de 25 anos de idade.

Diz que que chegou a ter trabalhos sazonais, nomeadamente, no “Projecto de Levantamento de Dados sobre o Impacto de COVID-19 no seio das Famílias”, para se saber se elas continuaram a ter alimentação normal depois da pandemia, mas, também, na “Iniciativa de Atribuição de Certificado COVID às Unidades Hoteleiras” em ordem certificar se estavam aptas para receberem turistas.

Parte do dinheiro recebido nestes “empregos sazonais”, “alavancou” canalizou para a sua empresa, a par de uma outra quantia amealhada com a participação no “Start-up Challanger”, representando o Fogo.

“Fiquei no ‘Top 10’. Assim sendo, neste momento, estamos na fase de incubação e de mobilização de alguns apoios para desenvolver e implementar algumas das muitas ideias que temos”, aponta.

Produção de sabões naturais

A produção de sabões naturais para tratamento do couro cabeludo e da pele com recursos a matérias-primas existentes na Ilha é uma das apostas do jovem de Ponta Verde, Zona Norte do Município de São Filipe.

“Os meus produtos já estão em duas casas comerciais de maior dimensão na Cidade de São Filipe”, anuncia Cardoso.

A produção de sabões não tem nada a ver com a sua formação, mas o facto de, nos primeiros dois anos do curso, ter estudado “muita Química”, nomeadamente, a Química Analítica e Física, acabou por aventurar na produção de sabão e outros produtos cosméticos que baseiam-se na Química. “Com um pouco mais de Investigação acabei por optar por esta produção”.

“A maior parte das minhas ideias e dos meus projectos estão ligados à área de Biologia ou Agronomia”, revela, notando que, para uma pessoa do meio rural, que sempre esteve ligado à agricultura, “acaba-se sempre por entender esta inclinação”.

Produção de cinco tipos de sabão natural

A linha de produção de sabão natural, “que ainda está numa fase muito incipiente”, conta com cinco tipos de sabões, sendo o mais procurado, o confeccionado à base de “Aloe Vera” (“Babosa”), “com excelentes propriedades” para o tratamento do cabelo e da pele. (Ver mais à frente os ingredientes e benefícios).

Além do “Sabão de Babosa”, Cardoso produz “Sabão de Carvão”, à base de carvão sem recurso à combustão (lume), de modo a ficar livre de toxinas; “Sabão de Argila”, cuja material-prima é importada da Ilha de Boa Vista; “Sabão do Enxofre” (do Vulcão do Fogo); e “Sabão de Borra de Café do Fogo”.

 

Comercialização

Os cinco tipos de sabões estão a ser comercializados apenas na Cidade de São Filipe em dois estabelecimentos comerciais, porque, está, ainda, a trabalhar sózinho, desde a recolha e transformação das matérias-primas à produção final.

“Estou na fase de adaptação de um espaço maior e mais apropriado para a produção mais intensiva e sem muita circulação de pessoas”, anuncia.

Para a produção de “Sabão de Babosa”, Cardoso instalou o seu próprio campo de produção da planta e de outras variedades que utiliza como matéria-prima, recorrendo à água para consumo familiar.

Segundo o mesmo, “quanto maior quantidade de gel a ‘Babosa’ tiver, melhor é para a produção de sabão e para o rendimento esperado”, daí que justifica-se, assim, a necessidade de ter o seu próprio campo de produção para que possa dispensar melhor cuidado às plantas e obter melhores garantias e resultados.

“Quero expandir a linha de sabão para o resto da ilha e para outros mercados, e, depois, pensar em outros cosméticos como óleo essencial, sabonete ou champô, usando as matérias-primas existentes, como as folhas de goiabeira, que ajudam no tratamento de couro cabeludo e no crescimento do cabelo, a para da Goma de Barnedo, entre outras”, promote, indicando que não tem pressa, uma vez que “é preciso realizar testes e mais testes, antes de ter o produto final”.

“Fogo Conservas”

Quer para a área de produção de sabões como para as outras actividades que pretende desenvolver, o jovem empreendedor criou a sua própria empresa, cujo nome é “Fogo Conservas”.

“Foi criada no âmbito do curso de Engenharia Alimentar, mas pretendo manter o nome e a marca, pese embora ela não esteja ligada apenas à conservação de frutas, sector em que a Ilha dispõe de grande potencial, mas, também, tenciono apostar na conservação de tudo o que está relacionado com a agro-pecuária”, explica.

Presentemente, Cardoso dispõe de uma área irrigada com produtos hortícolas. Apesar de estar, ainda, numa fase inicial, já produz alface, couve, pimento e milho – que tem colocado no mercado! -, mas a ideia é expandi-la.

“Há quase um ano que estou a correr atrás da água para rega. Caso consiga, vou criar novos postos de trabalho”, remarca, lembrando que a água que utiliza, neste momento, “é cinco vezes mais cara que a de rega”, impedindo “a implementação e a expansão das minhas ideias”.

No domínio hortícola, conseguiu “um apoio do Governo, através da Delegação do Ministério da Agricultura e Ambiente (MAA)”, que entrou com 50 por cento do valor do projecto, sendo a parte restante assumida pelo próprio.

“Há muita burocracia para obter a água para rega; tenho de esperar. Assim que for disponibilizada, vou ampliar o projecto e garantir empregos a outras pessoas”, frisa.

Sonhos por realizar

Paralelamente à área irrigada, “Adilson Cardoso” transformou o quintal e parte do pátio da sua casa (em Ponta Verde), num mini-jardim, com dezenas de plantas ornamentais, com inúmeras espécies vegetais.

“O meu sonho não é apenas vender plantas ornamentais ou medicinais, mas é criar um espaço verde, para receber visitas e provocar uma sensação diferente às pessoas que o visitam, proporcionando-lhes um dia marcante, comprando ou não as plantas”, confessa, adiantando que, presentemente, dispõe de um aplicativo para identificar e catalogar as plantas ornamentais, e que “a perspectiva, a curto prazo, é trabalhar na criação de mudas para vendas.

A par destes “vários engenhos”, Cardoso já começou a criar coelhos, com duas finalidades: a primeira, para aproveitar as fezes como fertilizantes dos campos, já que é melhor que os estrumes produzidos nos aviários e nos currais; mas, também, fornecer carne aos restaurants.

“É um modo, também, de aproveitar as ervas que retiramos do espaço para os alimentar”, justifica, revelando que “o cultivo de girassol e outras plantas para a produção de óleo, a par da criação de abelhas”, são outros sonhos do jovem de Ponta Verde.

Enfrentar desafios e supercar dificuldades

Este recém-licenciado em Engenharia Alimentar não está preocupado em obter apoios “de quem de direito”, pois, “estou consciente da realidade da Ilha e do país”, pelo que adverte “os colegas e outros jovens” que, para “se avançar e conseguir algo” é preciso enfrentar os desafios e supercar dificuldades.

“Não gosto de coisas fáceis, mas sim, de desafios que deixam as pessoas mais empolgadas para a batalha”, salienta, justificando que, “desde criança aprendi a enfrentar, superar e ultrapassar os obstáculos encontrados”.

Cardoso reconhece que os seus projectos ainda não são muito conhecidos pelas autoridades, mas isso não lhe desanima, já que, “o mais importante é ter foco, objectivo e meta de onde se quer chegar”.

Reconhecimento

“Estou ciente de que tão-logo a minha empresa der um pulo, o apoio e o sucesso vão chegar, uma vez que, quando trabalhas com afinco, dedicação e abnegação, desperta-se a atenção das pessoas”, argumenta, salientando que “tem recebido mensagens de muitas pessoas, manifestando a vontade e o desejo de quererem visitar o Espaço”.           

Engenheiro Alimentar, Domingos Cardoso de Pina, mais conhecido por “Adilson Cardoso”, de Ponta Verde, é um jovem ambicioso, “sonhador” e determinado, que quer dar o seu “contributo” para alavancar a Ilha do Fogo e colocá-la no patamar que merece estar no contexto nacional. Por ora, o seu “foco” e grande engenho é a “Fogo Conservas”, especializada em produção de sabões naturais. 

Ingredientes e benefícios de sabões naturais

1- Sabão de Babosa 

Ingredientes: Gel de “babosa” (“Aloe Vera”), óleo de eucalipto, óleo de alecrim, óleo de coco, óleo de rícino e óleo de Karité.

Benefícios: Hidrata o cabelo e estimula o crescimento, elimina a caspa, evita a queda do cabelo, tem efeito cicatrizante, hidrata a pele e evita o envelhecimento precoce, auxilia no tratamento da acne, reduz a celulite, controla oleosidade da pele, etc,. 

Modo de uso: Enxaguar bem no final; não deve ser utilizado todos os dias. É ideal para peles oleosas e mistas.

2- Sabão de Argila 

Ingredientes: Argila cinza, gel de “babosa”, óleo de eucalipto, óleo alecrim, óleo de coco, óleo de karité e óleo de rícino.

Benefícios: Contribui para o tratamento de lesões inflamatórias. É tonificante, clareador e esfoliante. Ideal para quem sofre de descamação e oleosidade capilar.

Modo de uso: Usar com a pele já molhada; enxaguar bem no final. Não deve ser utilizado todos os dias. É ideal para peles oleosas e mistas.

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