PUB

Desporto

Pugilista Nancy Moreira: “O boxe foi a minha melhor escolha”

Apesar de algum estigma ainda enfrentado pela mulher no boxe, a pugilista Nancy Moreira, 33 anos, aponta a modalidade como a sua “melhor escolha”. Mãe, dona de casa e atleta profissional, encontrou no boxe a reafirmação da sua força enquanto mulher. Depois de conquistar o quinto lugar no Mundial de Boxe Feminino, busca agora a qualificação para os Jogos Olímpicos de 2024.

Aos 23 anos, Nancy Moreira dava os primeiros passos no boxe, após deixar o futebol 11. Motivado por um cunhado iniciou na modalidade, apesar de todas as dificuldades iniciais. “O primeiro treino foi tão difícil que só voltei depois de um mês”, conta.

Com o regresso não teve dúvidas, o boxe foi definitivamente a sua “melhor escolha”. “Além de já ter o bicho da competição, perdi muito peso e isso foi, sem dúvidas, o que me cativou na modalidade”, explica Nancy Moreira ao A NAÇÃO.

Desde então, e há dez anos, o boxe faz parte do dia-a-dia de Nancy, seja no controlo do stress ou na manutenção da vida saudável, seja, acima de tudo, como uma atleta de alta competição que conquista, cada vez mais, o seu lugar no boxe feminino.

Atleta, mãe e dona de casa

No entanto, ainda sente o estigma de ser uma mulher no boxe, mas acredita que se está num processo de mudança de mentalidades e diz que o desporto não tem género, apesar do preconceito salarial. “No meu caso tento provar que uma mulher pode ser atleta de sucesso e ainda assim ser boa mãe e dona de casa. Mas claro, existe bastante preconceito salarial, mas penso que estamos num bom caminho”, avança a atleta.

Mãe de um menino de quatro anos e tia/mãe de outro de cinco, que adoptou aos cinco meses, Nancy tem uma rotina preenchida com dois treinos diários, de segunda a sábado. Tem conciliado a vida de pugilista, com a de mãe, dona de casa e companheira. Uma tarefa que diz difícil, mas não impossível.

“Sou mãe, dona de casa, empresária e atleta de alta competição. Tudo é uma questão de gestão de tempo, dedicação e muito amor. Nós mulheres somos multifacetadas. Conseguimos tudo”, acredita.

“Sinto-me bem com meu corpo e meus músculos”

O boxe reafirmou a força de Nancy enquanto mulher e permitiu que melhorasse a auto- -estima e a autoconfiança, tanto é que se diz mais vaidosa hoje do que antes de começar a praticar a modalidade. “Hoje sinto- -me bem com meu corpo e com meus músculos que nada me tornam com um aspeto masculino, pelo contrário. Aconselho vivamente a todas as mulheres”, sugere.

Para Nancy, os desafios da mulher no boxe são, sobretudo, a falta de apoios. No seu caso, apesar de ter recebido uma bolsa olímpica, ainda tem dificuldades em encontrar “sponsors” para todas as competições e estágios.

Foi o que aconteceu, recentemente, no mundial de boxe feminino de Istambul. A atleta representou Cabo Verde sozinha na competição e sem ajuda de nenhuma entidade. Para a pugilista, foi um momento particularmente triste, apesar de ter recebido alguma ajuda da comitiva brasileira na competição, que se viu sensibilizada com a sua situação. No final, conquistou o quinto lugar em trinta competidoras, o que pode ser considerado um feito desportivo.

Qualificação Jogos Olímpicos 2024

Agora, tenta a qualificação para os jogos olímpicos de Paris 2024. Um objectivo que faz com que Nancy lute, diariamente, para conseguir a apuração. Já no dia 8 de Setembro participa do campeonato africano de boxe, em Moçambique, mas antes, de 25 a 28 de Agosto, tem um estágio na Holanda.

Todo o processo de apuração e consequente participação nos jogos olímpicos de 2024 está dependente de apoios financeiros. “Tudo depende do financiamento para conseguir competir. Sem investimento é muito difícil chegar ao topo. Enquanto conseguir, irei lutar até conseguir o meu objetivo e depois festejar com meu povo cabo-verdiano”, ambiciona a pugilista.

Além do quinto lugar no mundial de boxe feminino, Nancy Moreira já conquistou outros títulos como campeã de África zona 2 e Bronze na África Games 2019.

Nancy Moreira é natural de Tira Chapéu, Praia, em Santiago, vive em Portugal desde os oito anos de idade e inspira-se no marido e atleta profissional, o português Jorge Silva.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 782, de 25 de Agosto de 2022

PUB

PUB

PUB

To Top