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Educação

Rúben Dias: De limpador de vidros a engenheiro de produção

Filho do bairro de Tira Chapéu, na Praia, Rúben Patrick Dias é o único licenciado de uma família composta por nove irmãos. Nos últimos cinco anos, trabalhou a limpar vidros para sustentar a família e frequentar a universidade. Concluído o curso, hoje é engenheiro e supervisor de produção numa fábrica de refrigerantes e cervejas.

Um jovem recém-formado, cheio de sonhos, que soube ser paciente para alcançar os seus objetivos, ao qual se consagra como primeiro licenciado entre seus irmãos. Rúben Dias afirma que na sua família esse foi um “grande passo profissional” e por isso “motivo de orgulho e admiração”.

“Não porque os meus outros irmãos não tenham a capacidade para tal, simplesmente escolheram outras vidas fora de Cabo Verde. Eu escolhi estudar e formar-me e, graças aos meus estudos, tenho um trabalho”, acrescenta.

Rúben Dias licenciou-se em Engenharia Electrotécnica e Manutenção Industrial, em Novembro de 2021. Hoje, já não é mais limpador de vidros, mas coordenador da produção feita nas instalações da Cavibel.

“Escolhi o curso de engenharia por causa da referência de um tio, que também é da mesma profissão, e sempre gostei da sua postura como profissional. Com o passar do tempo, fui apreciando as coisas que ele fazia e comecei a gostar de consertar electrónicos também”.

Cinco anos a conquistar um sonho

Em 2017, Rúben Dias começou a estudar Engenharia de Sistemas e Informática na Universidade Jean Piaget (UniPiaget), mas logo, em seguida, mudou de curso. “Vi que eu não tinha aptidão para passar horas em frente ao computador a programar, mas esse foi um dos melhores anos da minha vida, porque aprendi coisas que vieram me auxiliar no curso que acabei por fazer”.

Por ter escolhido o curso de eletrotécnica e manutenção industrial, Rúben Dias esperava estar mais no terreno e nos laboratórios para colocar em prática tudo que aprendeu na sala de aula.

“O curso não foi tudo aquilo que eu esperava, mas foi uma oportunidade de aprender muito daquilo que hoje aplico na minha carreira profissional. Na metade do curso eu sentia a necessidade de saber e ter mais conteúdos, porém, nem sempre havia condições para isso”.

Mas esse não foi o único problema que ele e os seus colegas de curso tiveram que enfrentar. “No meu caso, a minha maior dificuldade foi em relação ao pagamento das propinas. Todos os meses, eu me preocupava mais em pagar a propina do que em estudar, propriamente, para tirar óptimas notas, porque sabia que se eu não o fizesse teria mais problemas na frente”.

Portanto, durante cinco anos, Rúben teve que conciliar a sua formação superior em Engenharia Electrotécnica e de Manutenção Industrial com o seu trabalho e as suas responsabilidades pessoais, mas não estava a poupar esforços para continuar a sua caminhada.

Gerir as finanças

Antes mesmo de iniciar a sua vida académica, Rúben Dias sempre trabalhou para ter o seu próprio rendimento, considerando que estava em vias de formar a sua família.

“Depois de um ano a  chatear, literalmente, a DanilaFerreira, uma amiga minha que trabalha nos recursos humanos da Emprofac e que depois foi para a Cavibel, onde apareceu uma vaga para limpar os vidros, ela logo me informou e eu não pensei duas vezes, candidatei-me e consegui o trabalho”.

Com o rendimento que ganhava a limpar vidros, Ruben resolveu matricular-se na universidade e dar os próximos passos. “Durante anos eu estudava e limpava vidros. Muitas vezes pensei em desistir do curso porque eu tinha muitas responsabilidades e com uma esposa e duas filhas era difícil decidir entre o sustento da casa ou o pagamento da minha universidade”.

E hoje é com orgulho que olha para o passado, de olhos no futuro. “Cresci num bairro pobre, com muitas dificuldades, fome e más influências. Mas eu sempre soube que queria ter uma vida melhor, então lutei para isso e hoje sou a minha maior motivação, porque mesmo sendo de uma família humilde, estudei engenharia electrotécnica, defendi a minha monografia e agora tenho um trabalho com o qual sustento a minha família”, conclui.

Tiana Silva 

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 784, de 08 de Setembro de 2022

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