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Economia

Depreciação do euro face ao dólar: BCV obrigado a aumentar taxas de juro

Com o aumento das taxas de juro na Zona Euro e a desvalorização do euro face ao dólar, o Banco de Cabo Verde está obrigado a rever a sua política monetária devido ao PEG que mantém com a moeda europeia e, consequentemente, aumentar as taxas de juro de referência. Com essas duas situações, o Governo terá, por seu turno, que criar almofadas para impedir que a inflação importada não afete ainda mais o rendimento das famílias.

O Banco de Cabo Verde encontra-se numa situação desconfortável, na sequência da decisão do Banco Central Europeu (BCE), que aumentou as taxas de juro em 75 pontos base, que começaram a produzir efeitos ontem, quarta-feira, 14.

Com isso o BCV terá forçosamente que aumentar as taxas de juro, tendo em conta que no regime cambial de Cabo Verde, de paridade fixa com o Euro, temos de seguir as taxas do BCE.

Ao que A NAÇÃO conseguiu saber, Cabo Verde não pode ter taxas mais baixas que a Zona Euro. Por causa da liberdade de circulação de capitais e do excesso de liquidez existente no sistema bancário, a manutenção da actual situação traduz-se num risco acrescido para as reservas cambiais do país. 

De acordo com um economista contactado pelo A NAÇÃO, a manter-se, actual configuração das taxas de juro do BCV é “anómala”, à luz das últimas alterações das taxas do BCE.

Isto porque, devido a liberdade de circulação de capitais, que pode ser explorada sobretudo pelos bancos comerciais, e a paridade fixa, não se pode ter em Cabo Verde uma taxa de cedência de liquidez (0.50%) inferior à taxa de depósitos na Zona Euro (0.75%).

“Terá faltado ao BCV capacidade de antecipar os acontecimentos, ou estará adormecido ao volante?”, pergunta o nosso interlocutor.

BCV em estado de alerta

Perguntado pelo A NAÇÃO sobre as implicações da decisão do BCE em aumentar as taxas de juro em 0,75%, o BCV afirmou que o seu impacto no sistema financeiro cabo-verdiano, por agora, “vai depender da dimensão do aumento, que pode, ou não, originar um aperto nas condições monetárias e, por isso, esta situação pode levar o BCV a rever a orientação da sua política monetária devido ao PEG com o euro”.

Conforme o banco central, do ponto de vista económico, um aumento das taxas de juro “pode provocar um aumento da poupança e refreio no consumo”. Por outro lado, “podemos eventualmente beneficiar de uma potencial redução na inflação importada, no contexto em que esta medida resulte no controle da inflação”.

BCE aumenta taxas directoras

O Banco Central Europeu decidiu aumentar as taxas de juro em 75 pontos base, com efeitos a partir desta quarta-feira, 14. A taxa de refinanciamento fixa-se agora em 1,25% e os depósitos em 0,75%. A última subida nas taxas directoras, em Julho, foi de 50 pontos base, mas vários analistas esperavam já um aumento maior desta vez, para controlar o aumento da inflação na Zona Euro.

Esta é a primeira vez, desde 1999, que o BCE opta por um aumento de juros desta dimensão, embora seja a prática corrente este ano em diversas autoridades monetárias. A subida anunciada em Julho foi histórica, sendo a primeira vez que o banco central decidiu subir as taxas de juro em mais de uma década, acabando com os juros negativos na Zona Euro.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 785, de 15 de Setembro de 2022

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