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Diáspora

Cabo-verdiano ensina ciência em crioulo para “quebrar barreiras linguísticas”

Fredilson Melo, natural da ilha de Santiago, é doutorando em Biologia de Plantas, no Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, em Portugal. Nas redes sociais, tem desenvolvido projectos que visam ensinar conceitos científicos em crioulo e português, quebrando assim uma barreira linguística existente na área.

Mundialmente, o inglês é considerado a língua da ciência.

Este factor, que dificulta, em determinada medida, a absorção do conhecimento por quem não domina a língua, foi um dos motivos que levou Fredilson Melo a desenvolver dois projectos de comunicação científica, destinados a facilitar o acesso aos conceitos para o público cabo-verdiano.

A partir de Portugal, onde está a fazer o doutorando,  com recurso às redes sociais, Fredilson Melo criou o “Inxinando” e o “Explicanimado”, que consistem em pequenos vídeos de animação e uma websérie, respectivamente.

“Inxinando”

O primeiro projeto chama-se “Inxinando” e consiste em pequenos vídeos de animação, onde Fredilson explica temas científicos, narrados na língua cabo-verdiana.

“O objectivo é quebrar a barreira linguística da ciência e divulgar a ciência na língua nativa. Foi constatado que a comunicação da ciência em língua nativa gera mais engajamento, motivação, otimismo e compreensão dos conceitos”, fundamenta, em entrevista ao A NAÇÃO.

 Com este projecto, Melo espera democratizar o acesso à informação e inspirar as pessoas a explorar a ciência e o conhecimento.

O episódio mais recente do “Inxinando” fala sobre o paludismo, um vídeo necessário nesta época do ano em Cabo Verde, por causa das chuvas, defende o autor.  

Entretanto, o projecto conta com um total de seis episódios até agora, todos disponíveis no Facebook.

Destinado, por agora, a estudantes do ensino secundário e adultos, em geral, Fredilson pretende, mais à frente, criar uma espécie de mini-Inxinando, direccionada às crianças do ensino básico, de forma a ajudá-las a visualizar conceitos científicos a partir de uma idade muito nova.

“Pretendo fazer isso em parceria com professores para poder disponibilizar animações que sejam eficientes na ajuda à aprendizagem desses estudantes”, adianta.

“Explicanimado”

O segundo projecto é uma web série denominada “Explicanimado”, em português, que também promove a literacia científica. Foi criado por Fredilson Melo e desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras.

 Neste momento, diz, o projecto vai no segundo episódio, de um total de cinco para esta temporada.

 “No primeiro episódio falamos sobre o sistema imunitário: como é composto, como é formado  e como reage à invasão do corpo por patógenos. No segundo episódio falamos sobre como a vacina ajuda o nosso sistema imunitário a treinar-se para combater futuras invasões por patógenos”, explica.

Utilização de ferramentas acessíveis

Para ambos os projetos, Melo utiliza o PowerPoint como meio de ilustração e animação.

“É uma ferramenta não-convencional para este tipo de trabalho, mas depois de descobrir que posso utilizá-la para design gráfico e animação, tenho promovido-a como uma ferramenta de baixo custo, amplamente acessível e fácil de se utilizar para este tipo de trabalho ou educação em geral”, sugere.

A exploração desta ferramenta também tem sido documentada na sua página do Facebook.

Conteúdo “bem recebido”

Fredilson garante que o seu conteúdo tem sido bem recebido pelo público que também  tem sugerido que esses vídeos sejam passados na televisão.

“No auge da pandemia da covid-19 produzi um vídeo (Sr. Ferro Curado) que passou na TCV por várias semanas, e que se encontra na página do Ministério da Saúde desde então”, recorda, indicando que pensa seguir esta sugestão, de forma a tornar o conteúdo mais acessível.

Fredilson é natural do bairro da Achada Mato, na Cidade da Praia, onde nasceu e foi criado. Neste momento é doutorando em Biologia de Plantas, em Portugal, no âmbito do qual estuda como as plantas conseguem desenvolver e produzir quando há secura. Para isso, diz, utiliza o arroz, seu alimento favorito e a “principal fonte de calorias” em Cabo Verde.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 786, de 22 de Setembro de 2022

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