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Diáspora

Holanda: Cabo-verdiano com clínica, lança obra sobre 30 anos de experiência em saúde pública

Felizberto Lopes Martins da Veiga,55, anos é um cabo-verdiano de sucesso na Holanda, com uma carreira de mais de 30 anos de experiência em Saúde Pública. Enfermeiro, professor, psicoterapeuta e proprietário de uma clínica de Psiquiatria, Felizberto lança na tarde desta quarta-feira, 26, a sua primeira obra “Não olhar, mas ver e ser visto”, no Centro Cultural de Schiedam. O livro traz uma abordagem científica da Saúde Pública, baseada na sua experiência profissional para um maior humanismo nos cuidados de saúde mental.

Para conhecer o que está na origem desta obra, que relata 30 anos de trabalho na Saúde Pública, e a sua visão para uma saúde mental com “mais humanidade”, é preciso conhecer um pouco mais sobre o percurso de Felizberto da Veiga.

Nasceu em Achada Além, em Santa Catarina, de Santiago, mas cresceu na Praia, em Lém Cachorro. “Fui para a Praia com 12 anos. Fiz os estudos primários na Assomada, mas o ciclo preparatório e secundário fiz na Praia”, contou o empresário ao A NAÇÃO online.

Como recorda, Felizberto emigrou para Holanda em 1988. “Tinha vindo à Europa para participar numa actividade internacional da Juventude, na Suíça. Após a reunião, aproveitei para visitar familiares na Holanda e acabei por ficar”.

A decisão prendeu-se, na altura, com a necessidade de “apoiar” uma tia que vivia na Holanda e estava sozinha. “A minha tia e madrinha sempre foi uma das pessoas que sempre me apoiaram ao longo da minha vida”, destaca.

Percurso na área da saúde

Foi então que na Holanda decidiu tirar uma licenciatura em Enfermagem e em Saúde Publica, tendo-se especializado em Saúde Clínica. Depois, foi sempre buscando mais conhecimento e adquirindo mais competências, numa área pela qual tem muito interesse, sem nunca deixar o seu trabalho no sistema de saúde.

É Mestrado em Saúde Mental, em Psicoterapia Integrativa, em Nursy Pratice (práticas de enfermagem) e em Psiquiatria: Saúde Clínica e Mental.

Em 2011, começou a lecionar na Universidade em Psiquiatria Transcultural – como professor convidado, em Hogescholl em Roterdam e Utrecht, e na InHoland Universidade de Rotterdam.

Desde 2015, que é também empresário, desde que abriu a sua própria clínica em Psiquiatria, em Roterdão, onde dá consultas, atividade que vai gerindo com o trabalho que desenvolve no Hospital São Francisco em Roterdão e no hospital de Delft, uma cidade vizinha, além das aulas.

Igualmente, tem participado em várias conferências internacionais, tendo recebido inclusive, um Prémio de Melhor Orador Internacional, em São Paulo, em 2018.

Viagem de 30 anos

É precisamente esta viagem de 30 anos pelo Sistema de Saúde que Felizberto diz tentar transmitir na obra “Não olhar, mas ver e ser visto”, sobre o ponto de vista de uma “saúde mental com mais humanidade” e o que pode ser feito para melhorar essa prestação de cuidados.

Até porque, antes de chegar onde está, passou por algumas pedras no caminho, como o facto de não falar a língua inicialmente, a discriminação e exclusão. Obstáculos que foi contornando, sempre sem nunca perder o humanismo que o caracterizam.

Papel da música: hobby e terapia

A sua experiência na área passa ainda pelo recurso à música como terapia. “No início da minha estadia na Holanda, aproveitando a experiência de ter participado em alguns agrupamentos juvenis de animação musical em Cabo Verde, a música foi um meio de hobby e de integração”, recorda.

Durante algum tempo, associado “aos irmãos Ortet (João e Emanuel)”, participava nas actividades de igreja e em animação em bares.

“Em 1993 criamos o grupo Midnight e gravamos o primeiro álbum em 1995, que nos levou à digressão pela Europa e EUA. Estivemos juntos ate 2000. Com o Osvaldo Delgado, dos Rabelados, gravamos um álbum em 2012”, recorda.

Por isso, a música sempre foi o seu ponto de refúgio. “Faz me sentir perto di terra e surge com terapia para as dores de sodade”, revela.

Hoje, de forma pontual, participa em actividades culturais mas guardo a música como terapia, compondo canções em casa. “Tenho um estúdio em casa, meu lugar de refúgio, depois de regressar da actividade profissional diária”.

Preocupado com as causas das doenças mentais em Cabo Verde

Questionado como vê a gestão das doenças mentais em Cabo Verde, não esconde que se preocupa mais com a questão das causas das doenças mentais no país.

Causas essas que, como explica, “podem esconder ou camuflar outras situações bem mais complexas, com origem no abuso do álcool, no abuso de substâncias químicas e na desagregação progressiva do ambiente familiar”, como a pobreza crónica, além de outros factores de ordem cultural.

A psiquiatria, defende, deve ser sempre integrada com outras disciplinas da área da saúde. “Não pode ser gerida de forma isolada. Defendo o método holístico de tratamento (o paciente, a doença, a sociedade e ambiente em que vive, o contexto do paciente”.

Projectos em Cabo Verde

Para o futuro não tem dúvidas que gostaria de integrar um projecto de Terapia Ocupacional em Cabo Verde. “Acho que Cabo Verde reúne condições para uma Clinica de Recuperação, de Abstinência, que pudesse receber doentes de outros países por períodos determinados”, revela sobre eventuais projectos a desenvolver.

“Penso que se trata de uma boa oportunidade para CV que a meu ver reúne todas as condições para o efeito”, aponta.

“Não olhar, mas ver e ser visto” lançado hoje

Centrado agora no presente, as atenções estão voltadas para o seu primeiro livro “Não olhar, mas ver e ser visto” escrito para já em holandês.

“Penso em traduzir, mais tarde, para português. Mas, neste momento tenho algumas dificuldades financeiras para o fazer, de imediato…”.

O livro é lançado na tarde desta quarta-feira, 26, no Centro Cultural de Schiedam, pelas 15h locais, com apresentação a cargo de vários colegas da área.

Enquanto a obra em português não chega, para ser apresentada em Cabo Verde, Felizberto estará num congresso de Saúde Mental que terá lugar em Novembro, na Praia.

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