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Diáspora

Legado de Maria de Lourdes Chantre motiva criação de um mestrado em gastronomia cabo-verdiana

A criação de um mestrado sobre a gastronomia cabo-verdiana, de forma a dar cientificidade a um sector importante da identidade cabo-verdiana, foi sugerido durante a apresentação, esta segunda-feira, 12, no Grémio Literário, em Lisboa, do livro “História, Tradição e Novos Sabores da Cozinha de Cabo Verde”, da autoria de Maria de Lourdes Chantre.

Perante uma audiência de sala cheia, e ao som da morna, o responsável pela editorial Rosa de Porcelana, Filinto Elísio, falou da obra como um “tratado” pelo acervo antropológico-cultural e de cruzamento geográfico de povos, através dos alimentos, recordando a importância da cachupa se tornar património da Humanidade, enquanto elemento aglutinador dos cabo-verdianos, em todos os cantos do mundo.

A professora Alice Matos analisou em profundidade e extensão, não só este sexto livro daquela que é a primeira gastrónoma cabo-verdiana, mas também abordou toda a sua obra que não se limita à culinária, mas envolve também a arte de bem servir e receber e o contributo do saber de muitas mulheres de Cabo Verde.

Comunicar através dos alimentos

A jornalista Otília Leitão que trabalhou e viveu em Cabo Verde, tendo aqui aprofundado o conhecimento sobre os valores culturais deste país, considerou na sua apresentação, que Maria de Lourdes Chantre, que conheceu em 2005, “soube servir Cabo Verde comunicando através dos alimentos num entretecer de uma malha fina com o convívio de escritores, pintores, poetas, ceramistas, artesãos e bebendo das expressões populares de festividades tradicionais”. 

Não terá sido por acaso que o primeiro Presidente da República, Aristides Pereira, quando do primeiro livro “Cozinha de Cabo Verde”, lhe endereçou uma carta, constante nesta recente obra, em que considerava o trabalho de Maria de Lourdes Chantre, como um contributo identitário de afirmação nacional.

Pesquisa de mais de sete anos

Otília Leitão referiu que o legado de Maria de Lourdes Chantre, material e imaterial, pela alma e paixão que a autora imprime no seu trabalho de pesquisa, possibilita que a Universidade de Cabo Verde possa propor para a gastrónoma um doutoramento honnoris causa. A pesquisa deste novo livro demorou mais de sete anos e está contida em mais de mil páginas. 

A jornalista que descobriu a autora e a mulher através de conversas, análise documental, observação dos objectos, fotos e quadros expostos em sua casa, considerou ser estimulante para as gerações de gastrónomos atuais e futuros a instituição de um prémio de gastronomia com o seu nome. Maria de Lourdes Chantre, aos 93 anos, é também parte integrante da História, disse.

Valorização nacional 

Também a propósito do mestrado em gastronomia, que existe em vários países, incluindo Portugal, Otília Leitão considerou que a gastronomia constitui um vasto campo de valorização nacional e que um mestrado permitia o estudo científico e aprofundamento de um sector que muito engrandece Cabo Verde.

No final foi servido um “ponche cabo-verdiano” acompanhado de pasteis de atum, doces de coco e de banana e de cartuchinhos de mancarra, com a impressão do pano di terra.

Maria de Lourdes Chantre que agradeceu, muito comovida, foi também homenageada, no passado sábado pela prestigiada e histórica Associação Cabo-verdiana de Lisboa, que atribuiu à sala principal de convívio o seu nome. 

Mário de Carvalho 

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