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Santiago

Entre lágrimas e esperança, a dura vida de Maria Almeida

No coração de Calabaceira, bairro da cidade da Praia, nos deparamos com um caso de resistência face à pobreza extrema. Maria Almeida, 62 anos, personifica a dura realidade enfrentada por muitas famílias cabo-verdianas, que vivem na corda bamba do dia a dia, entre a sobrevivência e a desesperança.

Maria, de seu nome completo   Maria Miranda   Tavares Almeida, nascida e residente na zona de Cala baceira, cidade da Praia é a matriarca de uma família que enfrenta o fardo da pobreza com coragem. Diz que já viu de tudo um pouco. Até um dos filhos ser baleado à frente dela.

Para sobreviver, Maria depende, por vezes, da generosidade alheia para sus tentar seus entes queridos.  Mãe de vários filhos, a vida colocou nas suas mãos uma bebé, de três meses, hoje adolescente de 17 anos, com deficiência, mas que trata e cuida como se tivesse saído dentro de si. A falta de fraldas e utensílios básicos é também o espelho da vida que esta mulher, do povo, leva.

“Cuido da Deise que tem agora 17 anos, como se fosse a minha filha, desde os três meses. Ela exige vários tipos de cuidados e tenho dificuldades, principalmente, na compra de ‘dodots’ para sua higiene pessoal; muitas vezes, ela fica muito tempo no hospital e há dias em que dependo da bondade alheia, há pessoas que me conhecem, que sabem da nossa história, e por solidariedade oferecem-me algo à porta da  minha casa”, afirma Maria  Almeida.

 Memória triste

A renda limitada de Maria provém da pensão deixada pelo falecido marido, uma quantia que mal consegue cobrir as necessidades do dia a dia. A memória do filho mais velho, vítima de um assassinato brutal em sua própria casa há sete anos, permanece como uma ferida aberta no coração desta mulher marcada pela dureza da vida. Outro filho sucumbiu a uma doença cruel, deixando uma ausência que nada nem ninguém pode preencher.

“Ao todo tive seis filhos”, conta-nos a nossa entrevistada. “Três meninas e três rapazes, mas os dois mais velhos faleceram; o primeiro com 23 anos, foi assassinado à minha frente, dentro de casa; e o outro estava doente com problemas no estômago e acabou por não resistir à doença aos seus 33 anos de idade”.

“Actualmente”, prossegue, “as minhas meninas e o meu rapaz mais novo são eles que me ajudam um pouco, não estudaram muito, mas sempre que surge uma oportunidade de trabalho eles aceitam para poder trazer algum sustento para casa”.

Moradia condigna

Maria Almeida carece também por uma moradia condigna, para dar maior conforto e dignidade aos seus entes queridos, principalmente a menor com deficiência.

“A minha casa é coberta de chapa, os meios que tínhamos não nos permitiram fazer coisa melhor; necessito ainda de fazer mais um ou dois cômodos, para ter um pouco mais de espaço para os mais pequenos.

Até agora a ajuda que tenho recebido vem basicamente da associação Safende Tudo Hora, mas acredito que se mais pessoas se mobilizarem terei mais chances de conseguir de melhor a minha casa e a minha vida”, adianta Maria.

Sombras da adversidade 

Apesar da vida difícil, entre as sombras da adversidade, Maria Almeida ergue a bandeira da esperança. Acredita que a sua vida haverá um dia de melhorar. Como, ainda não sabe. A pobreza, para esta “mãe coragem”, não pode ser um fado inevitável, ou uma fatalidade. Até lá Maria Almeida espera ter forças para poder continuar a cuidar da Deise, que Deus pôs nas suas mãos, e dos outros filhos, naturais, naquilo que lhe for possível.

Sara Andrade

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 847, de 23 de Novembro de 2023

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