PUB

Economia

Retrospectiva 2023: Economia lá se foi desenrascando…

PIB deve crescer 4,5% em 2023

Em termos económicos, para 2023, o Banco de Cabo Verde (BCV) antecipa um crescimento de 4,5% do PIB, sendo que as actuais projecções, face às divulgadas em Abril de 2023, refletem uma revisão em alta do crescimento do PIB, em 0,4 pontos percentuais, conforme o último relatório de política monetária do Banco Central cabo-verdiano.

Contudo, em Outubro último, o governador Óscar Santos, perspectivou que o crescimento do PIB, em volume, deverá recuperar “gradualmente”, atingindo os 4,7% e 5,4%, em 2024 e 2025, respectivamente. Já em termos de inflação, espera-se que a taxa média anual desça de 4%, em 2023, para 2,2%, em 2024, e 0,1% em 2025. 

Na altura, o Governador do BCV observou que a economia nacional regista uma “pronunciada tendência de moderação do crescimento”, com a actividade económica a “ressentir-se da performance menos exuberante do setor do turismo e do desvanecimento dos efeitos de arrastamento do processo de recuperação pós pandemia”. 

Terceiro Compacto MCC

Uma boa notícia para a economia cabo-verdiana chegou já em finais de 2023. Cabo Verde foi selecionado para beneficiar de um terceiro compacto dos fundos do Millenium Challenge Corporation-MCC, num quadro de cinco anos. 

O montante deverá ser disponibilizado para fins de integração económica regional, e o objectivo é impulsionar avanços em vários sectores de desenvolvimento em países que cumprem padrões rigorosos de boa governação, do combate à corrupção e respeito pelos direitos democráticos, como consideram ser o caso de Cabo Verde. 

 

 

Transportes aéreos inter-ilhas sem solução à vista

O ano que hora finda foi literalmente marcado pelos sucessivos constrangimentos provocados pelos transportes aéreos inter-ilhas, com a Bestfly Cabo Verde (TICV), a única operadora do mercado, a deixar os utentes, comerciantes e agências de viagens a acumularem prejuízos, à beira de um ataque de nervos. 

 Atrasos e cancelamentos sucessivos, falta de previsibilidade de voos, incapacidade de resposta à demanda e falta de comunicação para com os passageiros, são queixas e reclamações que se foram acumulando ao longo do ano, nas redes sociais, e na imprensa, com impactos negativos na vida dos utentes, que vêm as suas vidas, compromissos e negócios adiados. 

A operar quase sempre com apenas um aparelho, devido a constrangimentos de peças e avarias, como o A NAÇÃO relatou várias vezes ao longo das suas edições de 2023, parece não haver uma solução à vista para a companhia. Em Dezembro, chegou uma nova aeronave, que não se sabe quanto tempo vai ficar, para tentar dar resposta à demanda de Natal e fim do ano, que é enorme. 

Da parte do regulador, a Agência de Aeronáutica Civil de Cabo Verde (AAC) o silêncio foi incomodativo ao longo do ano, com a empresa a se escudar completamente a esclarecer a opinião pública sobre um tema nevrálgico para a sociedade. Sem transportes eficientes e regulares não há desenvolvimento económico em lugar nenhum do mundo, especialmente num país que tem o turismo como principal motor da economia. 

TACV lá se vai safando

Quem também sobreviveu em 2023 foi a TACV, que passou a operar este ano para Paris e Itália, de novo, pese embora a continuação dos avales para despesas de funcionamento e salários que vão saindo dos bolsos dos cabo-verdianos.

Os preços praticados pela concorrente mais directa entre Cabo Verde e Europa, deixam margem para a TACV tentar ser mais competitiva e captar de novo mais clientela. Inclusive, desde Novembro passado, a empresa regressou aos voos domésticos, por assim dizer, e passou a ligar a cidade da Praia à ilha do Sal, com duas frequências por semana, no boeing

Sabe o A NAÇÃO que a TACV já está a trabalhar no certificado ETOPS para a retoma das ligações a Boston já no início do próximo ano e pretende retomar igualmente a rota do Brasil, onde há uma forte pressão dos cabo-verdianos naquele país.

Actualmente, os voos inter-ilhas são operados pela Bestfly Cabo Verde, empresa de capital angolano, depois desta ter adquirido a TICV (antiga Binter), que enfrenta agora a concorrência no mercado da TACV, pelo menos na rota Praia-Sal, abrindo a oportunidade do turismo interno entre a capital do país e a maior ilha turística de Cabo Verde. O que, acima de tudo, é uma boa notícia. 

Grupo RIU processa Estado

2023 vai ficar ainda para a história como ano em que o maior empregador privado de Cabo Verde, o Grupo RIU, deu entrada na Comarca do Sal, num processo contra o Estado de Cabo Verde por danos provocados pela morosidade da justiça. 

Em causa está um processo laboral que podia ter sido tratado em três meses e que levou, segundo os ofendidos, nove anos, tendo causado um prejuízo de 6 milhões de contos nos cofres desse Grupo hoteleiro. A situação, ao que tudo indica não é nova e há outras grandes empresas que processaram o Estado por danos financeiros devido à morosidade da justiça. 

Na altura Olavo Correia, vice-primeiro-ministro e ministro das finanças admitiu os custos para os contribuintes, devido ao alegado mau funcionamento da justiça, e enfatizou que não deixa de ser um contrasenso, por assim dizer, o facto da Justiça condenar o Estado pela própria morosidade da justiça. 

Terrenos das ZDTI:

Investidores pregam calote de mais de 16 milhões de contos ao Estado  

Em termos económicos e de arrecadação de receitas, por assim dizer, o Governo continuou à caça de dívidas. Só no início de Janeiro deste ano, cerca de 30 “investidores” no ramo imobiliário e turístico estavam a dever mais de 16 milhões de contos ao Estado. Essas dívidas, com mais de 10 anos, são referentes a incumprimentos em relação a contratos de investimento nas ZDTI do Sal e São Vicente. O Governo tenta reaver o dinheiro ou os terrenos adquiridos apenas através de um sinal, mas a tarefa tem sido difícil e promete continuar em 2024. 

 

Complexo Djeu na Praia foi por água abaixo

Aquilo que já se vinha desenhando, tendo em conta a lentidão das obras e incumprimento de prazos, acabou por se confirmar em 2023. A Macau Legend Development anunciou no mês de Outubro passado que essa operadora de jogo, do conhecido magnata David Chow, decidiu abandonar o projeto da construção de um hotel-casino no ilhéu de Santa Maria, na Praia, também conhecido por complexo Djeu, deitando por água abaixo o maior projeto turístico jamais previsto para Cabo Verde, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros. 

Contudo, após sucessivos adiamentos, e lançamento de várias primeiras pedras a que o A NAÇÃO assistiu, o investimento inicial passou de 250 milhões de euros para 90 milhões de euros. Para trás ficou a intenção de criação de várias infra-estruturas para suportar uma estância turística de luxo com marina, hotel-casino, centro cultural, bares, restaurantes, etc. Na prática, o que ficou foi um edifício gigante em plena orla marítima e uma ponte de ligação entre a Gamboa e o Djeu e um conjunto de taipais que continuam a tapar a vista aos praienses há vários anos. 

Esta desistência do mega projecto em Cabo Verde, de um hotel-casino, segundo justificou a empresa prende-se com a vontade da mesma em reduzir o investimento no jogo e apostar em projetos ligados ao entretenimento e turismo de iates. A Macau Legend Development, recorde-se, foi fundada pelo Magnata David Chow, que inclusive chegou a ser, até há um ano e pouco atrás, Cônsul de Cabo Verde em Macau.

Em 2026, David Chow tinha dito que em três anos (2019) “os cabo-verdianos” haveriam de ver “os resultados” do seu empreendimento, o que não se efetivou. Inclusive, muitas interrogações e dúvidas à sua efectivação foram levantadas ao longo dos últimos anos, especialmente desde que o Banco de Cabo Verde chumbou o pedido de abertura de um banco na capital do país, por parte de David Chow, como foi comentado na altura, por não reunir os requisitos de conformidade exigidos pelo regulador.

O magnata macaense recebeu inclusive uma licença de 25 anos para exploração do jogo, 15 dos quais em regime de exclusividade em Santiago. A estas junta-se uma licença especial para explorar, também em exclusividade, o mercado do jogo “online” em Cabo Verde e o mercado de apostas desportivas, por um período de 10 anos. Por isto, os macaenses pagaram cerca de 1,2 milhões de euros. A lei de jogos, recorde-se, define cinco zonas permanentes do jogo, nas ilhas de Santiago, São Vicente, Sal, Boavista e Maio. Cabo Verde atribuiu até ao momento duas concessões, uma à Macau Legend e outra para a ilha do Sal, onde funciona o Casino Royal, em Santa Maria, que abriu portas em dezembro de 2016.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 852, de 28 de Dezembro de 2023

PUB

PUB

PUB

To Top