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São Vicente

São Vicente: Droga e delinquência inquietam Mindelo

As noites do Mindelo já não têm o encanto de outrora. Hoje, por causa de assaltos e violência, as pessoas evitam sair à rua de noite e vai sendo notória a proliferação, nos bairros, de “quebradas” e “bocas de fumo”, que servem de tráfico, comercialização e consumo de drogas. Os seus clientes, quando não dispõem de dinheiro, recorrem a roubos e assaltos à mão armada. Os estafetas dos restaurantes tornaram-se os alvos preferenciais desse tipo de delinquência.

Neste momento, em São Vicente, há um novo “modus operandis”, na actuação dos criminosos em que os alvos preferidos são os “estafetas”, dos restaurantes, pizzarias e bares, que distribuem as encomendas dos pedidos dos clientes ao domicílio, em motociclos.
Mário Barbosa, estafeta de uma pizzaria de Chã de Alecrim, relatou ao A NAÇÃO que foi atacado por “delinquentes” quando transportava encomendas de dois clientes; uma, para o Madeiralzinho e a outra, para Cruz João d’ Évora. “Logo ao chegar no local da primeira entrega fui abordado por quatro pessoas que me tiraram tudo e desapareceram”, conta o jovem, que disse se ter sentido impotente em se defender na altura do assalto.

Este tipo de actuação foi constatado, no terreno, por esta reportagem, ao se deparar com uma operação policial, precisamente num momento em que elementos da PN tinham acabado de neutralizar e deter em flagrante um jovem que estava a assaltar o estafeta de uma outra pizzaria do Mindelo. Assustado, o jovem assaltado disse ao NAÇÃO que, felizmente, saiu com vida.

Conta que foi chamado para uma entrega, mas quando chegou ao local se deparou com quatro jovens, sendo abordado por uma rapariga, ainda muito jovem, que, segundo lhe disse, fazia-se acompanhar de mais três rapazes. A nossa fonte diz que, ao tentar reagir, um elemento do grupo apontou-lhe uma faca, no que sentiu o pressionar de uma outra face no pescoço pelo que já não conseguiu fazer mais nada. “Felizmente tive sorte, calhou a polícia passar, viu e me socorreu”, conta aliviado

Mau para os negócios de entrega

Operadores da restauração dizem estar a viver uma “afronta” e que, a continuar esta situação, esta poderá colocar em perigo a vida e o próprio emprego dos jovens estafetas que honestamente trabalham. Como esta reportagem ouviu, há zonas da ilha e da cidade do Mindelo em que os estafetas já não aceitam ir, e se vão, fazem-no com receio de serem assaltados.

Odário Moreira, chefe e empreendedor de 45 anos, revela que teve roubada uma moto e que, apesar de ter apresentado queixa na esquadra da polícia, nunca teve qualquer resposta da polícia. “Isto sem contar com o perigo que os funcionários correm, devido à insegurança reinante”, lamenta.

Este entrevistado considera “complicada” a situação ligada aos assaltos sofridos nas entregas, pois, para além do prejuízo financeiro, “há sempre uma entrega que fica por fazer, o que pode, emcerta medida, denigrir a credibilidade, a imagem e a reputação da empresa”, o que por si acaba por afectar todo o negócio das entregas de alimento ao domicílio.“Sofri um atentado contra a minha pessoa, em que um indivíduo disparou três vezes em minha direcção, comuniquei o facto às autoridades, e até ainda não me informaram nada em relação ao desfecho deste caso”, estranha Odário Moreira, restando-lhe por isso a sensação de que “a justiça está a ser benevolente com os criminosos”.

A NAÇÃO apurou, entretanto, que o indivíduo de que fala o nosso entrevistado encontra-se na prisão da Ribeirinha, depois de detido na posse de drogas. De acordo com fontes policiais, o mesmo vinha gerindo várias “quebradas” em Chã de Alecrim e em outros bairros, nomeadamente, Madeiralzinho, Zona X (Ribeirinha) e Campim.
Em relação as causas que estão na base da perpetração dos assaltos por parte dos jovens, Odário Moreira afirma não ter dúvidas de que o assunto é “droga”.

Como refere, para concluir o seu depoimento, emprega 16 jovens no seu empreendimento (o que uma ilha como São Vicente é número expressivo) e recusa-se a aceitar a ideia de que a falta de emprego leva os jovens a caírem nos malefícios da droga. “Não concordo, pois tenho dado emprego a vários jovens e muitos acabam por brincar com o trabalho”, remata.

Odair Moreira

Receio de sair à noite

O clima do medo apodera-se de pessoas pois, como diz Arlindo Miranda, bancário aposentado, de 63 anos, actualmente, “por receio, muitas pessoas evitam sair de casa à noite”. Com isso o encanto das noites do Mindelo, outrora cantado por trovadores e poetas, é hoje coisa do passado.
A Arlindo Miranda preocupa-lhe, além dos “kassubody’s” na via pública, os roubos nas residências e lojas, e, a seu ver, a forma de minimizar este tipo de crime passa pela
abertura de postos policiais nos bairros tidos como mais problemáticos. O desemprego jovem é um dos factores do aumento da insegurança, mas o maior mal é, acima
de tudo, “a falta de confiança dos jovens e, não só, nos políticos e nos governantes local e central”. Na sua opinião, o nível de descrença nos políticos “é hoje em dia grande”.

Artistas que romantizam o crime

Além de estudante de Direito, Cláudia Sofia, 29 anos, é cantora em afirmação em São Vicente. Em conversa com A NAÇÃO critica a forma como muitos artistas têm utilizado a música para, no seu entender, promover o consumo do álcool, a droga, a chicha, o tabagismo e a prostituição. Como diz, mesmo não vivendo “essas vidas”, tais artistas acabam por dar mau exemplo aos jovens que passam a pensar que “a vida é aquilo que estão a demonstrar na sua arte”.

Para esta jovem cantora, a música deve ser utilizada para chamar os jovens para o “caminho do bem” e a não enveredarem pelos vícios da droga e do álcool, fenómenos que estão “a prejudicar muitos jovens mindelenses”, que, influenciados por esse tipo de mensagens, “acabam por se perder no mundo da criminalidade”.

João A. do Rosário

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