Imigrantes, maioritariamente de origem asiática, têm marcada para a próxima segunda-feira, 07, uma manifestação em Lisboa contra a “discriminação” e “perseguição” de que se dizem alvo por parte da AIMA (Agência para a Integração, Migrações e Asilo). A manifestação, com o apoio da Solidariedade Imigrante, tem concentração marcada para as 10:00, em frente ao nº 20 da Avenida António Augusto de Aguiar, onde a AIMA está sedeada.
A Solidariedade Imigrante, a maior associação de imigrantes em Portugal, ouviu queixas de cidadãos do Bangladesh, do Nepal, do Paquistão e da Índia que, segundo o presidente da associação, Timóteo Macedo, são aqueles “que o Estado português não quer aceitar”.
Lutar para alterar as coisas
Segundo Timóteo Macedo, “nada nos cai dos céus, nada nos é dado, se nós não lutarmos para que as coisas se alterem”, considerou o dirigente associativo justificando a convocação da manifestação.
Timóteo explicou à Lusa que foi um grupo de imigrantes que pediu à associação apoio para realizar uma “manifestação de descontentamento” contra as políticas migratórias das autoridades portuguesas, a primeira de várias que se seguirão.
“Reunimos há pouco tempo com representantes das várias comunidades que estão a ser muito perseguidas, até por algumas organizações da extrema-direita em Portugal. Falamos das comunidades asiáticas e também das comunidades islâmicas”, disse o presidente da Solidariedade Imigrante, denunciando o “aumento da islamofobia” no país.
Com mais de 70 mil membros (um número inédito na Europa), a Solidariedade Imigrante recebe imigrantes de várias latitudes, expressando o descontentamento das pessoas contra as alterações legais em Portugal, que eliminaram as “manifestações de interesse”, um recurso jurídico que permitia a legalização de estrangeiros apenas com visto turístico.
AIMA acusada de “grande inoperância”
Ainda segundo Timóteo Macedo, a AIMA está a mostrar “grande inoperância”, deixando as vidas de milhares de imigrantes suspensas. O presidente da associação acusou, ainda, a organização governamental de “não responder e indeferir mais de 50 porcento [%] das anteriores manifestações de interesse”.
Timóteo sublinha que “a AIMA não está a fazer absolutamente nada, queixa-se de não ter recursos humanos e diz não tem muitas vezes competências para fazer isso”, e argumenta que com esta manifestação se pretende “alertar a sociedade civil e a comunicação social para a situação destes milhares e milhares de pessoas que têm a vida suspensa”.
Timóteo enfatiza que estas pessoas, que estão a trabalhar em Portugal, “fazem os seus descontos, passaram por um outro país e não fizeram nada de mal. Mas, agora têm a vida parada”, e avança que, só na cidade do Porto, se registam 800 casos destes.
Imigrantes “escravizados e acorrentados aos patrões”
O presidente da Solidariedade Imigrante considera que a abertura de canais prioritários apenas a cidadãos do espaço da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) tem sido usada como estratégia de “dividir para reinar” os imigrantes e o movimento associativo.
Comentando o recente acordo assinado entre o Estado português e entidades patronais para a contratação nos países de origem do espaço da CPLP, Timóteo Macedo manifesta-se crítico do acordo, na media em que os trabalhadores contratados ficam “escravizados e acorrentados aos patrões”.
“Os patrões não ficam responsáveis por nada, porque retiram dos salários tudo, o seguro de saúde, os custos da educação [na aprendizagem da língua portuguesa] ou a habitação que disseram ao governo ser responsáveis”, e denuncia que os patrões vão “meter em contentores as pessoas, presas às empresas, sem direito a uma vida autónoma”.
Alte Pinho C/Lusa
