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Política

AJOC diz que ministro revela "desprezo" pela classe

A Associação de Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) considerou hoje “irresponsáveis” e reveladoras de “desprezo” pelos jornalistas as declarações do Governo sobre a forma como foi noticiado o último relatório norte-americano sobre os Direitos Humanos no país.
Para a AJOC, o Ministério da Cultura e Indústrias Criativas (MCIC) divulgou um comunicado a este propósito, no domingo, em que “manifesta um expressivo desprezo e uma profunda falta de respeito pelos profissionais cabo-verdianos da comunicação social”, considerando a associação que os jornalistas “são acusados de ser incapazes de interpretar um documento e de se terem limitado a fazer ‘copy paste’, e mais grave ainda, de tentativas de manipulação”.
“O relatório é claro quando refere que, durante o ano transato, a liberdade de imprensa foi beliscada, e cita como exemplo o que aconteceu entre o ministro que tutela a comunicação social [Abraão Vicente] e a classe jornalística, sublinhando que nenhuma medida foi tomada pelo executivo na sequência dos atos e declarações protagonizados pelo MCIC, e das consequentes reações da AJOC e dos jornalistas, e que o assunto acabou por morrer sem que nenhuma das partes tivesse recuado”, escreve a AJOC, num comunicado.
A associação considera que tal “constitui um libelo dirigido ao Governo, querendo significar que, face ao acontecido, alguma coisa teria de ser feita pelo executivo, o que, claramente, não aconteceu, deixando em aberto um espaço potencial para futuras práticas de interferência do poder político na esfera de atuação dos jornalistas”.
Em causa está um comunicado do MCIC, que tutela a comunicação social, que contesta o tratamento jornalístico dado ao relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos divulgado na semana passada, que assinala que umas das questões “mais relevantes” sobre Direitos Humanos em 2017 em Cabo Verde foi a “violação da liberdade de imprensa pelo Governo”, tendo este aspeto sido destacado pela comunicação social.
A AJOC sublinha a “especial referência à liberdade de imprensa” pela primeira vez num relatório deste tipo, acrescentando que o Governo deixou de fora do seu comunicado a parte que a associação considera “mais importante” do documento norte-americano: “As questões mais relevantes em matéria de Direitos Humanos incluem privação arbitrária da vida, uso excessivo da força pela polícia e agressão a pessoas detidas, tratamento desumano e castigos degradantes, detenções abusivas, violação da liberdade de imprensa pelo Governo, corrupção, tráfico de pessoas, falhas na proteção das crianças face à violência e a trabalhos perigosos, além de falhas na proteção aos trabalhadores migrantes”, escreve a associação, citando o relatório.
“Ainda que nos parágrafos seguintes o relatório reafirme que há liberdade de imprensa em Cabo Verde, o que é globalmente verdade, o documento não deixa de citar, expressamente, os factos envolvendo o ministro que tutela a comunicação social”, sublinha a associação.
A posição do Governo, no comunicado que emitiu, é de que existiu “claramente uma interpretação errada do documento”, nomeadamente por parte da agência Lusa, considerando que houve “manipulação de informação do relatório onde não consta qualquer menção à violação dos direitos da imprensa”.
No mesmo texto, o Governo considera que o relatório norte-americano “é taxativo” ao afirmar que em 2017 “a imprensa independente estava ativa e expressou uma ampla variedade de opiniões sem restrições” e estranha “o tratamento dado à notícia” e a “reprodução acrítica da mesma por parte dos demais órgãos de comunicação social, que demonstram não terem consultado a fonte original da notícia, ou seja, o relatório do departamento do Estado dos EUA.”
Na nota hoje divulgada, a AJOC refere que, face “a tais pronunciamentos, que considera irresponsáveis”, condena “o tratamento dado à comunicação social pelo ministro que tutela o setor e reafirma a sua confiança na capacidade, na idoneidade e na seriedade da classe jornalística cabo-verdiana”.
A direção da AJOC considera “perigoso o caminho que está a ser seguido pelo executivo de, sempre que as notícias não lhe agradarem, classificar as mesmas como ‘fake news’, tentando, dessa forma, descredibilizar a imprensa cabo-verdiana”.
Com Lusa

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