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Opinião

Cisnes Negros e o Jogo

Por: Osvaldo Lima (Duval)*

A teoria do cisne negro (black swan theory) ou eventos cisne negro (black swan events), em rigor corresponde a uma metáfora que procura descrever um acontecimento absolutamente inesperado, que escapa ao GPS dos especialistas, das abordagens dominantes e que se tenta explicar em retrospectiva ou à posteriori.

O termo cisne negro baseia-se numa crença antiga europeia, de que o cisne era branco, de que não existiam cisnes negros, até que estes tivessem sido avistados na selva,  nos finais do século XVII, na Austrália.

A teoria do cisne negro foi desenvolvida por Nassim Taleb, para explicar o efeito desproporcionado de eventos de enorme impacto, cientificamente impossíveis de se prever e extremamente raros.

Acontecimentos claramente fora do GPS das expetativas normais, à luz por exemplo da história, das ciências, das finanças, da tecnologia, da economia e no caso concreto destas notas, acrescenta o articulista, do desporto.

A teoria refere-se a eventos inesperados, de enorme magnitude – atento à evidência empírica, histórica – e de consequências frequentemente catastróficas, no caso de cisnes negros negativos. Pela sua natureza extremamente atípica, os referidos eventos acabam por ser muito mais impactantes coletivamente do que os acontecimentos normais.

Segundo Taleb, na realidade o “normal” é frequentemente irrelevante. Considera que praticamente tudo na vida social resulta de raros mas consequentes choques e saltos.

Critica o facto de a esmagadora maioria dos modelos referentes à vida em sociedade focalizarem-se no “normal”, em particular na distribuição normal/curva do sino.

Taleb defende, com algum exagero, que tais métodos de inferência, baseados na curva de Gauss, têm um muito fraco poder preditivo. Isto porque a referida curva abstrai-se dos enormes desvios, ignora e minimiza o efeito de eventos “fora do modelo”.

Os eventos cisne negro foram reanalisados por Taleb no seu último livro de 2007, Cisne Negro, tendo estendido a abordagem inicial, focada nos mercados financeiros, para além destes.

Neste artigo resolvi abordar o desporto/Basket, uma grande paixão desde a adolescência, face aos desempenhos basquetebolísticos absolutamente extraordinários, estonteantes e surpreendentes do Giannis Antetokounmpko e do Edy Tavares, salvaguardadas necessariamente, as devidas proporções.

Tais desempenhos podem ser vistos como outliers, estatisticamemente falando. Numa tradução livre, aberrações/anomalias.

Aliás Giannis, a maior sensação (MVP) da época regular da NBA – maior liga basquetebolística do Mundo – é conhecido como the Greek Freak ( a Aberração Grega) e o nosso Edy foi apenas e só o maior defensor da Euroleague e do melhor campeonato do Mundo (Liga ACB), logo a seguir à NBA.

Ocorreu-me apelidá-los de Cisnes Negros (Black Swans), considerando a forma absolutamente improvável como chegaram ao basquetebol mundial e ao estatuto de grandes estrelas, na constelação internacional da modalidade.

Ainda que a extraordinária história do Edy seja sobejamente conhecida nas nossas ilhas atlânticas, vale recordar que Big Edy foi “descoberto” por um turista alemão no Maio, sua ilha natal, aos 17 anos e sem nunca antes ter praticado a modalidade.

Quanto ao  Giannis foi “descoberto”, com a idade de 13 anos, por um treinador amador grego, ao vê-lo a jogar street basket com os vizinhos, num playground perto da sua casa .

Filho de pais nigerianos e nascido na Grécia, “the Greak Freak”, miúdo generoso que era vendedor ambulante para ajudar os progenitores, tornou-se o rosto do seu país de nascimento e uma enorme estrela do Planeta Basket, a nível mundial.

Algo natural após a explosão do Giannis, uma vez que na Grécia existe uma verdadeira loucura pelo Basket e Giannis possui qualidades absolutamente únicas para a modalidade,  para além de uma humildade e ética do trabalho invulgares.

Hélas, neste mundo conturbado, prenhe de contradições e hipocrisia, durante toda a sua adolescência era vulnerável a ataques racistas e a ameaças de deportação para a Nigéria, país onde até então nunca tinha posto os pés.

Bem recentemente, as crianças nascidas na Grécia, filhas de emigrantes africanos, enfrentavam enormes dificuldades para a legalização, muitas mais ainda para a  obtenção da nacionalidade.

Quando Giannis pertencia ao comum dos mortais, era visto pelos gregos de origem europeia como mais um emigrante africano vivendo ilegalmente na Grécia. O mundo dá voltas!

Mas escrevo aqui para celebrar o jogo/the game, as suas enormes virtudes, virtualidades e os nossos dois Black Swans Positivos – Capeverdian  Black Swan and Nigerian Black Swan -, duas estrelas mundiais da nossa Sub-região, que para além das suas extraordinárias capacidades basquetebolísticas, são antes de mais excelentes pessoas, humildes, generosas, muito ligadas à família e modelos para a juventude, pelo que acima de tudo nos devem encher de felicidade e orgulho.

Finalmente, um saravá também para outro MVP das Ilhas Atlânticas – Ivan Almeida, El Condor – que vem brilhando nos palcos europeus.

E viva o Basket! De todos os desportos coletivos, the game é provavelmemente o mais espetacular e exigente em termos físicos e mentais, na voz autorizada do meu amigo Zé Anguila, O GOAT do nosso basquetebol.

*Ex-internacional de Basquetebol   

Praia, aos 08/07/19

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