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Cultura

Obituário: Morre Celina Pereira, a incontestável e inesquecível contadora de estórias

Celina Pereira deixou, esta quinta-feira, 17, o mundo dos vivos, em Portugal, onde vivia há muito tempo, vítima de doença prolongada. Foi uma das primeiras vozes – se não a primeira! -, a avançar com uma Petição para que diligências fossem feitas, em ordem a que a Morna fosse proclamada  Património Imaterial da Humanidade.

Calou-se a voz da artista e contadora de estórias, mas fica, para a eternidade a sua vasta e multifacetada obra discográfica e literária.

Conhecida, amada e querida, dentro e fora de Cabo Verde, dona de uma voz inconfundível e de “bem ninar” – pequenos e graúdos -, Celina Pereira fica, eternamente, no Panteão dos Imortais cabo-verdianos – residentes e/ou na vasta Nação Diaspórica.

Celina Pereira, cantora e contadora de estórias que marca a sua época, nasceu na Ilha da Boa Vista, mas seguiu, ainda criança, para São Vicente, para onde a família foi morar.

Lança o seu primeiro “single” em 1979, e, quatro anos depois, o seu primeiro LP – “Long Play”, baptizado de “Força di Cretcheu”.

De lá para cá, foi uma “mãozada” de discos, “singles”, livros e áudio-livros – livro e cassete -, a maioria deles, destinados a crianças, ou não fosse ela, professora de formação e vocação.

Tem trabalhos gravados/produzidos com a parceira de artistas brasileiros, moçambicanos e portugueses.

 “A sereia Mánina e os seus sapatos vermelhos”, datado de 2018, é um dos seus mais recentes áudio-livros, e que, de certeza, jamais será esquecido pela pequenada.

 Prémio Carreira da IV Gala dos CVMA

Celina Pereira foi distinguida com o Galardão na Edição de 2014 da Gala dos CVMA – “Cabo Verde Music Award” -, entregue pela Primeira Dama, Lígia Fonseca.

“Não sei dizer nada. Nunca fiz nada pelos prémios, tenho feito pela minha identidade, meus pais, que onde estiverem estão orgulhosos, pelas crianças. Obrigada Cabo Verde por me teres parido mulher. Se não fosse Cabo Verde não seria quem sou. Obrigada a vocês que me aplaudem e dão os vossos filhos para eu poder contar histórias”, manifestara Celina Pereira, na ocasião.

Entre as várias distinções no país e na diáspora, Celina Pereira, também foi galardoada como Comendadora da Ordem do Mérito da República Portuguesa, em 2003, pelo então Presidente da República lusa, Jorge Sampaio, graças à sua acção e trabalho, em prol da dignificação, valorização e divulgação da música e da cultura cabo-verdianas.

Em Cabo Verde foi homenageada tanto pela SOCA – Sociedade Cabo-Verdiana de Autores -, como pela SCM – Sociedade Cabo-Verdiana de Música.

Curiosamente, Celina Pereira morreu no mesmo data em que falecera a “Diva dos Pés Descalços” – Cesária Évora -, que deixou o mundo dos vivos num também 17 de Dezembro, mas de 2011, aos 70 anos de vida.


Uma das primeiras a propôr elevação 
da morna a Património Imaterial  Mundial

Celina Pereira foi uma da primeiras, senão a primeira a propôr a elevação da morna a Património Imaterial Nacional e Mundial quando, em 2011, enviou ao Governo de Cabo Verde uma Petição na qual apontou o papel “aglutinador” do mais conhecido género musical cabo-verdiano, sublinhando as suas potencialidades como “valor universal”.

Na ocasião, para justificar a sua Petição, Celina Pereira recorreu a Eugénio Tavares, um dos mais importantes poetas cabo-verianos, para defender que a morna é “a intérprete maravilhosa da alma desse povo ilhéu e sonhador”, sublinhando que é assumida, consensualmente, pelos diferentes autores e compositores cabo-verdianos.

“A sociedade cabo-verdiana tem sabido, através dos tempos, valorizar o conhecimento, a beleza e a dignidade enquanto valores estruturantes e informadores da conduta social. A elevação da Morna a património nacional, numa primeira fase, e a património imaterial da humanidade, numa fase seguinte, seria uma valiosa contribuição dada à espiritualidade e à cultura universal da humanidade”, sustentara Celina Pereira.

O Colectivo  do A NAÇÃO e do Grupo ALFA, aproveitam a ocasião para apresentarem os seus mais sentidos pêsames e votos de consolo e rápida recuperação à Família enlutada da inconfundível e sempre lembrada Celina Pereira.

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