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2021 começa entre incertezas e dez anos para se avançar para a transformação sustentável

Por: José Valdemiro Lopes

Foi no quarto trimestre de 2019, que o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) identificaram dois grandes factores estruturais como ameaças inquietantes para o aumento das desigualdades existentes no desenvolvimento global das economias mundiais.

O primeiro factor é o avanço e crescimento contínuo do mundo digital – em todos os domínios -, que cria empregos de especialidades, uma situação que afectará, sobremaneira, as pequenas economias dependentes, como é o nosso caso, nas próximas décadas.

O segundo factor é a mudança climática, que afectará todas as nações do mundo e será implacável com as comunidades arquipelágicas. Frente a essa realidade e evidência, Cabo Verde tem de encarar e programar a chamada “nova normalidade”, como um instrumento catalisador de novas oportunidades de mudanças, já em 2021, ano em que das poucas surpresas que nos poderá reservar, uma certeza será a continuação da recessão desta pequena economia de subsistência, dependente, fortemente, da retoma do Turismo, actividade que contribui para 25 por cento do PIB (Produto Interno Bruto)cabo-verdiano e que é, também, a maior industria mundial.

Sentimos todos, em Cabo Verde, os efeitos do seu abrandamento, para não dizer paralisia.

O fecho das fronteiras e as limitações de circulação nos países europeus, nossos principais clientes, paralisaram entradas de “visitantes”, principalmente, nas ilhas do Sal e da Boa Vista, com reflexos, similarmente, nas mais restantes ilhas do arquipélago…

Neste momento, face à urgência sanitária na gestão da pandemia e, apesar dos esforços para não se desviar a atenção sobre questões extemporâneas colaterais da vivência do quotidiano…estamos sobrevivendo, embora, de recorrente indigência, em termos de recursos materiais e humanos, na área da saúde pública.

Felizmente, também, as transferências da Diáspora seguiram seus trâmites normais, apesar de sabermos, nós os residentes, que os emigrantes cabo-verdianos viveram (e vivem!) situações difíceis impostas pela crise sanitária, nos seus países de residência…

Cabo Verde, frente a esta terrível crise sanitária, evitou a deriva para o cenário de instabilidade e lamentamos todos os óbitos dos nossos conterrâneos, no País e na Diáspora.

O confinamento afectou a economia e o emprego, mas o povo envolveu-se, limitando a propagação em grande escala do novo coronavírus, contrariando seus efeitos mais perversos.

Cabo Verde conta, em primeira mão, com os seus elementos endógenos, e a nossa própria resiliência às crises, agradecendo a cooperação e a ajuda internacional, que nos deu seu suporte na luta contra Covd-19, esperando, todos, que esta cooperação continue, também, no acesso à Vacina e possíveis medicamentos de tratamento.

Acreditamos que a nossa “salvação”, foi conseguir evitar, embora a continuidade de casos de contaminação, em praticamente todas as nove ilhas; o pronto envolvimento e vigilância da população, que obedeceu e na maioria, pôs na prática os procedimentos recomendados pelas autoridades sanitárias: higienização das mãos; distanciamento físico; uso da máscara, evitando a propagação de Covid-19, em grande escala, permitindo que esta crise sanitária seja gerida pelos recursos da saúde pública, disponíveis localmente, em cada ilha e região em Cabo Verde, designadamente: hospitais, delegacias de saúde e centros de saúde.

O confinamento atingiu, com muita intensidade a camada social mais pobre e o operador económico da informalidade – “essa população activa!” -, que não consta ou não estava inscrita no “Cadastro Social Único”…

Boa parte desses agentes, senão a maioria, ficou completamente paralisado e fora dos contextos e critérios das ajudas e acesso a incentivos públicos…

Os que mais sofreram e sofrem, ainda, são os Artistas, Músicos, Intérpretes Musicais e Guias Turísticos, os anfitriões que actuam na linha de frente e os embaixadores por excelência, da promoção do Turismo Cabo-Verdiano.

As primeiras forças sociais a atraírem a atenção dos “visitantes”, com quem partilham a Morabeza ou a Cabo-Verdianidade, em todas as nove ilhas habitadas de Cabo Verde.

Nas vidas desses profissionais ou profissionalizantes culturais, a redução do Orçamento do Estado para 2021, com o desinvestimento em muitas actividades socioculturais, vai-lhes, certamente, afectar suas vidas em 2021… Mas congratulamos com o “investimento estratégico” necessário, verificado na área da Saúde.

A pandemia do novo Coronavírus, “desregrou”, também, a educação em Cabo Verde, em 2020 – a todos os níveis! -, registando índices baixos, regressando a níveis, talvez, de mais de 15 ou 20 anos atrás, com incremento exponencial da pobreza e, talvez, venha-se, também, a verificar (como rotina), aumento da concentração da riqueza a nível da pequena élite privilegiada, que sempre consegue fazer benefícios, tanto nos bons como nos maus anos…

Se o mundo inteiro vive momentos de incertezas, as grandes linhas de “melhorias” e de recuperação estão identificadas, conforme a realidade dos diferentes objectivos que têm como propósito, salvar a “humanidade”.

Todos devíamos, antes de tudo, gozar de Boa Saúde e viver em situação de “Bem-Estar” global…

Cabo Verde deve capitalizar mais, e continuar na via certa, devido à virtude de ganhos obtidos nestas últimas duas décadas, com “…forte redução da mortalidade infantil e menor incidência de enfermidades sanitárias…”.

Com vontade política, esta Nação Arquipelágica deve ancorar-se à estratégia do cumprimento, na próxima década do ODS (Objectivos do Desenvolvimento Sustentável), nº 3, ou seja: Saúde e Bem-Estar) e dos ODS nº 8: Trabalho Decente e Crescimento Económico…

Tudo leva a crer, que Cabo Verde, está, potencialmente, em condições de materializar acções directas, para a redução de pobreza extrema (ODS nº 1).

A Área Marítima Exclusiva, cabo-verdiana (que devia ser ou estar protegida), atrai numerosos barcos pesqueiros de armadores internacionais… Aqui temos oportunidades palpáveis… só nos falta (… a coragem e ousadia …), de pôr em prática políticas activas, para o avanço na sustentabilidade nas “áreas” pesqueiras, sobretudo, no concernente à pesca ao largo e investir em actividades agrícolas e indústrias agropecuárias…

Riscos existem sempre, mas, Cabo Verde, País de Crescimento Médio (de Renda Baixa), está em posição e condição de obter resultados positivos nessas áreas, a médio ou a longo prazos…se houver vontade política.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 696, de 31 de Dezembro de 2020

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