PUB

Covid-19

Um ano da pandemia: Agentes culturais esperançosos na retoma

Parados há um ano, artistas e produtores de eventos acreditam que o sector vai renascer com a retoma pós-pandemia. Neste momento, a esperança centra-se em alternativas para fazer frente a actual conjuntura. Até que o quadro se normalize a cantora Fatu propõe espectáculos com mais de 100 pessoas.

Após um ano da suspensão de shows e eventos, o sector da cultura ainda vive um momento de flexibilizações. Ainda não há data para a retoma das actividades. São vários artistas e técnicos parados por causa da pandemia.

José Lima, da empresa CaboSom, é uma desses operadores. Diz que não conseguiu trabalhar durante todo o ano. Ele e os seus colaboradores viram as suas receitas caírem e tiveram que recorrer a empréstimos para pagar as despesas e os funcionários. 

“Estamos no vermelho. Tivemos que pedir acesso a algum crédito bancário para colocar os trabalhadores em regime layoff mas nesse momento o que temos são prejuízos acumulados”, lamenta.

Aderson Soares, ou Detxa, da DEventos em São Vicente, é um produtor que trabalha com eventos de massa e emprega várias colaboradores. Sem renda desde o início da pandemia, diz já não saber até quando aguentar sem declarar falência. A solução, conforme Detxa, está na retoma de eventos, o que só será possível quando as pessoas forem vacinadas.

“Ao garantirmos a imunidade de grupo penso que podemos voltar a trabalhar. As pessoas estão com saudades desses tipos de eventos e acredito que quando regressarmos vai ser muito bom, vai ter muita procura”, perspectiva o produtor, que garante estar a preparar eventos para atrair as pessoas, pós pandemia.

O produtor musical José da Silva, conhecido como Djô da Silva, reitera a ideia de que os espectáculos pós-pandemia conquistarão um bom público e “tudo será igual” o que é bom para a economia e para os músicos que tem perdido muito em direitos autorais.

“Os artistas que eu agencio estão sendo muito prejudicados em termos de direitos autorais, porque está ligada aos espectáculos e quanto menos espectáculos menos direitos têm. O dinheiro que estão a receber é metade, ou menos de metade, do que estão acostumados”, observa Djô.

De cantora a padeira

Muitos tiveram que se adaptar para sobreviver ao período. A cantora Fatu Djakité, que costumava actuar em vários espectáculos, nacionais e internacionais, teve que se reinventar e literalmente “pôr as mãos na massa”. Aprendeu a fazer pão como uma das formas de sustentar a família.

“Tivemos ajuda de amigos e familiares, continuei a trabalhar no estúdio de gravação-sem renda, aprendi a fazer pão para vender e consegui levar este ano sem nenhum tipo de dívidas. Digo que está sendo uma luta que constituiu um aprendizado em sabermos lidar com os recursos que nós temos”, desabafa Djakité, acrescentando que já começou a aparecer em pequenos shows nos quais ela conseguiu actuar e as esperanças estão depositadas no regresso aos palcos.

O produtor de eventos Gilson Lima, gerente da Cockpit, trabalhava com o aluguer de palco, material de som, restauração, catering, entre outros, na cidade da Praia, é outro exemplo de resiliência. Actualmente, está a investir na hidroponia, sistema de produzir hortícolas sem utilizar terra, apenas água, como forma de obter renda e honrar os compromissos.

“Depois da pandemia ficamos sem renda, então, resolvemos apostar nesta área. Estamos a arranjar parcerias novas e a montar uma empresa que neste momento prepara-se para empregar oito pessoas e inserir produtos no mercado”, conta Gilson.  

Soluções

Fatu Djakité propõe a realização de shows com mais de 100 pessoas num único espaço. “Se lá fora é possível fazer shows, aqui também. O que falta é pesquisar e encontrar a melhor forma de fazê-los. 1h30 de espectáculo, as pessoas irem de máscara, mais de 100 pessoas num espaço é exequível, sim”, sentencia a cantora.

José Lima sugere formas de aliviar as empresas neste momento, ao afirmar que “poderiam adiar os pagamentos de INPS e desburocratizar um pouco mais o acesso a créditos bancários.”

Já Gilson Lima e Detxa consideram que a solução no momento é reinventarem-se e esperar pela vacina.

Djô da Silva avalia a questão da vacina e diz que ela não irá resolver, de imediato, o problema com os shows internacionais.

“Será complicado a retoma de eventos internacionais porque nem todos os países vão imunizar-se ao mesmo tempo. Esses estão com níveis diferentes de vacinação, então se eu tenho um artista que vai fazer uma turnê na Europa ficará difícil. Penso que uma retoma a 100% só irá acontecer depois da imunização completa”, perspetiva Djô da Silva.

Um ano sem aglomerações

O sector cultural ficou marcado, nesse um pandémico, por várias restrições, por isso não faltaram manifestações onde os agentes do sector acusaram o governo de os ter abandonado, com prejuízos e sem data prevista para a retoma de actividades.

Houve momentos de flexibilização, como a possibilidade da realização de eventos à volta das apresentações musicais ao vivo em bares, salas de teatros abertos com lotação máxima de 100 pessoas, que deram certo alívio ao cenário. Mas, mesmo assim, o sector ainda amarga os prejuízos da paralisação e a esperança centra-se na retoma das actividades. A esperança é que, com a vacinação em massa, o país volte à normalidade e a cultura volte aos palcos para a alegria dos cabo-verdianos.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 707, de 18 de Março de 2021)

PUB

PUB

PUB

To Top