PUB

Diáspora

Cidália Monteiro: “Orientação profissional exige mente aberta e aprendizado permanente”

“Pessoa muito positiva”, conheceu bem cedo os caminhos e os altos e baixos da Emigração. Após uma “escala” de 12 anos em França, Cidália Monteiro assentou arraiais no Luxemburgo, Grão-Ducado Europeu que acolhe  uma significativa comunidade cabo-verdiana. É orientadora profissional, ofício que “exige mente aberta e disponibilidade de aprendizado e reciclagem permanente”, em ordem a se dar respostas “às múltiplas, variadas e exigentes respostas” dos clientes de “diversas idades e proveniências”. Referente a Cabo Verde,  é “cautelosa”,  uma vez que  desconhece o Programa de Orientação Profissional do Arquipélago, mas, mesmo assim, palpita que a experiência da Escola de Hotelaria e Turismo, co-financiada por Luxemburgo, “é um Modelo de Sucesso”.

 A  NAÇÃO – Que características deve ter uma orientadora profissional?
Cidália Monteiro – Além das habilidades sociais, deve ter um óptimo conhecimento e faro do mercado de trabalho e uma boa audição; em todos os sentidos. É muito importante saber ouvir, analisar e orientar os candidatos/clientes, da melhor forma possível. Ahn!!!, também é crucial e imprescindível saber e dominar línguas estrangeiras. Pessoalmente, tenho a sorte de dominar sete idiomas. 

 Quais as diferenças existentes entre Orientação Profissional e Orientação Vocacional?
Pessoalmente, não vejo grandes diferenças no meu dia-a-dia de acção.  Aliás, muitos são os que entendem que acabam sendo uma e a mesma coisa…

 …como assim?
É que, em ambos os casos, temos de orientar o candidato/cliente, para a possível melhor escolha de uma profissão ou de um aprendizado. Sobrepõem-se, constantemente. Porém, há nuances. Na vocação – muitos são os que detestam esta palavra! -, existe uma tendência ou habilidade – também chamada de “queda para!…” -, enquanto a orientação
profissional foca mais, regra geral, no mundo do trabalho e no domínio profissional. Resumindo: orientador profissional é aquele que auxilia nas primeiras escolhas profissionais, que pretende-se, seja para toda a vida. A par disso, ajuda e orienta, também, os que querem e pretendem mudar de curso, de profissão, candidatos à aposentação, entre diversas outras opções. Aliás, longe vai o tempo em que uma profissão era uma escolha para toda a passagem humana nesta face da Terra!

 Em tudo isso,  onde entra o “coaching”?

O “coaching” não pode ser negligenciado no aconselhamento das carreiras. Não é um “coaching” aprofundado, mas há aspectos que tocam no treinamento e no aconselhamento. No meu caso, em concreto, treino e oriento a pessoa/candidata em questão, para a vida profissional. 

Satisfação
Quais os pontos positivos e negativos da sua área de actuação?
Sou uma pessoa muito positiva. Infelizmente, na nossa acção quotidiana, não temos tempo suficiente para aprofundarmos as necessidades dos clientes. Às vezes, quase que se decepciona as pessoas em seu projecto profissional, uma vez que, muitas vezes, há factores influenciadores, que não dependem, directamente, do orientador… 

 …quais, por exemplo?
Escolaridade insuficiente para continuar os estudos. Outro ponto negativo é a fraca valorização da nossa profissão…do nosso ofício, contrapondo, muitas vezes, à exigência e a alta fasquia colocada pelos clientes. Na mais das vezes, querem receitas prontas para cozinhar, mas, infelizmente, a realidade é bem diferente. Como se deve caminhar com os pés bem fincados no chão, fazêmo-lhes ver, que é necessário todo um processo e uma realidade para se atingir os objectivos pretendidos. Para nós, conselheiros, nem sempre é fácil lidar com o comportamento, e, muitas vezes, também com as emoções…

Insisto: há mais pontos positivos ou negativos?
Há mais pontos positivos.

 Porquê?
Ajudamos as pessoas a materializarem os seus projectos de vida, transmitimos a nossa “expertise”, orientamos e ouvimos os nossos semelhantes – com muita atenção! Muitas das vezes, também temos que dizer algumas duras  verdades. Felizmente, muitos são os que voltam para nos agradecer, após encontrarem o caminho profissional ou educacional certo ou pretendido. No meu caso, o que mais me dá gosto e satisfação, são os encontros multi-culturais em que participo, nos quais lido com pessoas de todas as esferas da vida. É simplesmente fantástico!

“Aprender com os clientes” 

Como está o Mercado?
É muito competitivo. Precisa-se de estudos, conhecimentos, bagagem, formação e constante reciclagem profissional, para se poder conseguir um emprego nesta área. Resumindo: é necessária uma constante e permanente adequação da sua experiência profissional. O Mundo e os patrões mudaram, as universidades também…tornaram-se mais exigentes na Sociedade de hoje, que, requer sempre mais, muito mais e melhor. 

 Já agora: quem são os seus clientes?
São de todas as idades e proveniências. Não temos idade máxima. Os jovens, regra geral, a partir dos 15 anos, mas, também, os adultos, querem, muitas vezes, mudar de rumo profissional, principalmente, após uma longa carreira. Para quebrarem a rotina e abraçarem novos desafios. 

 Que conselhos dá aos principiantes que queiram “aventurar-se” por esta área?
Que é um óptimo trabalho, mas que exige muita paciência, conhecimento do novo, gosto pelo aperfeiçoamento e aprofundamento da experiência profissional, principalmente, no domínio social. Acima de tudo, que deve ter mente aberta e estar pronto para aprender, também, com os clientes. 

Deve haver Orientação Profissional em Contexto Escolar?
Também faço intervenções nas salas de aulas, para sensibilizar, apoiar e orientar os jovens na sua escolha profissional, e, por vezes, com bons resultados  nos seus estudos.

Experiência luxemburguesa…

Tem acompanhado o Sistema Educativo Cabo-Verdiano, principalmente, o Dossiê referente à Orientação Profissional?
Infelizmente, não. Mas é um dos meus capitais objectivos. Tinha uma viagem marcada para o conhecimento e estudo, “in loco”, deste Currículo, mas, infelizmente, a Pandemia de COVID-19 – sempre ela! -, decidiu o contrário. Continuo optimista e interessada nesta matéria. Aliás, pretendo reprogramar esta Viagem de Estudo e permuta de conhecimentos, tão-logo que as condições sejam propícias e aconselháveis.

 Pelos ecos que lhe tem chegado, que juízo faz?
O que sei, neste momento, da Orientação Profissional em Cabo Verde, são as novas que me chegam através de  conhecidos e familiares…

 …e o que lhe dizem?
Que muitos jovens concluem estágios e/ou mesmo os seus estudos, mas continuam desempregados na profissão que pretendem exercer. 

 O Modelo  Luxemburguês – de Orientação Profissional! – pode servir de  inspiração a  Cabo Verde?
Sou cautelosa! Repito: desconheço o Programa Escolar Cabo-Verdiano, no domínio da Orientação Profissional. Mesmo assim, da experiência que tenho ouvido, referente à  Escola de Hotelaria e Turismo, co-financiada pelo Grão-Ducado de Luxemburgo, é um Modelo de Sucesso. Aliás, o “The Hotel School in Luxembourg”, deu as boas-vindas e acolheu alunos de Cabo Verde, em  Outubro de 2019, para estágios de aperfeiçoamento e aprendizado, na Área de “Catering”, Hotelaria e Turismo. Ecom bom entrosamento e resultados.

 Tem em pauta projectos para Cabo Verde?
Quero descobrir o que se pode fazer no campo da Orientação Profissional. Na sequência disso, pode aparecer um Projecto concreto… 

 Caso consiga levar por diante os seus propósitos, que mais-valias impactam?
A Juventude é meu ponto de referência. Amo compartilhar e acredito, principalmente, na Juventude Africana. Ela tem muito potencial. Aliás, são os jovens que vão mudar o País, claro que, com a ajuda de especialistas internos e externos. 

“Rota de fuga” 

COVID-19 beliscou as suas actuações?
Infelizmente, afectou muito as minhas intervenções, principalmente, nas salas de aula. Sempre trabalhei e estive em contactos face-a-face,  com os meus orientados/as, mas, as restrições de Saúde forçaram-me a novas adaptações e formas de atendimento.  Aliás, isso afectou, psicologicamente,  a  muitos jovens e, também, a adultos.

 Que papel tiveram – e estão tendo! – as Tecnologias?
Foram a rota de fuga. Felizmente, tínhamos e temos esse meio de comunicar, compartilhar, orientar e fazer colocações e ponderações no processo de ensino-aprendizagem. 

 Como é ser Mulher, cabo-verdiana e orientadora profissional no Grão-Ducado do Luxemburgo?
É uma força ser negra, mulher, cosmopolita, conselheira e orientadora profissional. É uma riqueza: você conhece tantas nacionalidades diferentes, que, muitas vezes, se identifica, ou, também, aprende com pessoas de culturas, posturas, comportamentos e modos de vida totalmente diferentes. Aliás, essa é uma das  grandes satisfações do meu trabalho. 

 Que mensagem deixa aos patrícios no Arquipélago e nas Sete Partidas do Mundo?
Acredite nas suas habilidades e trabalhe duro para realizar os seus sonhos! Temos um Arquipélago magnífico, com dificuldades também, mas temos que acreditar que podemos sempre mudar e superar os constrangimentos da caminhada, caso lutemos para isso. Aos jovens, lembro-lhes, que tudo é possível, principalmente, se tiverem e cultivarem as suas referências, se souberem quem são, de onde vieram e para onde querem caminhar. Sempre e sempre, com os pés bem fincados no chão!    

“Suportes e pilares” de Cidália
Cidália Monteiro é natural de Assomada, no Concelho de Santa Catarina, no Interior da Ilha de Santiago, em Cabo Verde. 

Foi emigrante na Holanda – por 12 anos! -, onde se licenciou em Ciências da Educação, com especialização em Francês.

Está em Luxemburgo desde 1980, onde finaliza um Mestrado em  Mediação. 

Preenche os seus tempos livres, «principalmente, com leituras e debates» com mulheres  – de várias latitudes. 

«Dedico, também, muito do meu tempo à Família, principalmente, à educação dos meus dois filhos, que são os pilares e os suportes da minha vida», revela ao  A NAÇÃO, concluindo que  investiga, produz e publica artigos «para a promoção da Diáspora e do Povo do Arquipélago» de Cabo Verde.  

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 728, de 12 de Agosto de 2021

PUB

PUB

PUB

To Top