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Olhares de Lisboa: Destes alegóricos votos de Natal

Por: Filinto Elisio

Lúcido, este vosso amigo contista anda pelo caminho – e todos os caminhos levam a Roma -, ao vento (agourento), à chuva (batismal) e ao frio (lustral) , carregando bandeiras invisíveis e intangíveis da criação. A quem, pelas variantes, lhe dá os bons dias ou lhe deseja Boas Festas, ele responde em primeira pessoa: O meu amor por Roma tem muitas histórias. É uma presença eterna, como se fosse um filme de Frederico Fellini. A fantasia, como Roma, é eterna. A realidade, pelo contrário, arvorando-se verdadeira, é passageira e não vai nesta estrada.

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Para que haja salvação não temos de passar pela catástrofe, nem aceitar este gritante silêncio. Antes os penugentos pombos da Piazza Navona. A pobreza e a desigualdade, mesmo em cenários de crescimento económico, estão cá há muito tempo e a pandemia, dir-se-iam poeiras radioativas, as agudizou.

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Dá-se, de barato, o não realizar os nossos sonhos, mas, convenhamos, era exigirmos minimamente o honrar das promessas feitas. Por estas e por outras, sempre que possível, recomendo à juventude o make love, not war e o pôr-se on the road que as mudanças, estas só acontecem no tempo certo. E o mais, caros amigos?

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O mais é a tal resiliência, na desconfiança de que os horrores ainda demoram um bocado. Os amigos, por obséquio, não me perguntem quando é o desfecho disto. Por ora, é uma espécie de abismo que nos devora…quotidianamente. Todavia, a grande questão é: será esta realidade mais pródiga do que o imaginário? E não será esta impostura que me impede de ser exegeta das circunstâncias e de também desejar-vos, em alegórica prosa, um Feliz Natal. 

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Assisto no noticiário da RAI (o meu italiano de ouvido só me permite entender da missa a metade) e eis que, mercê desta pandemia, a Fontana di Trevi completamente vazia. A minha imaginação vai longe, como se recompusesse o filme Dolce Vita, de Frederico Fellini e me aparecesse, nua e deslumbrante, Anita Ekberg no meio das águas. O apresentador do telejornal (pelo que entendo não me fala de Vénus) nem explica que Roma e Amor são o mesmo anagrama.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 747, de 23 de Dezembro de 2021

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