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Cabo Verde, sociedade global no mundo de desigualdades

Por: José Valdemiro Lopes

Ocorrências e feitos de impacto mundial marcaram a história da humanidade, abrindo ou fechando uma “era”. Se o ano de 1991, com a queda do “Muro de Berlim”, pôs fim ao período ou era da “guerra fria”, podemos afirmar sem reservas que a pandemia do novo coronavírus, Covid-19, marcou um fim simbólico ao período “pós-guerra fria”, pois, o mundo inteiro – e Cabo Verde não foge à regra! -, a vida socioeconómica, nunca mais, será igual à da época anterior ao advento desta terrível e maléfica pandemia que paralisou tudo, marcando todos e que continua a obrigar-nos a assumir comportamentos que eram impensáveis, nas nossas vivências, desde o primeiro trimestre deste ano atípico e “histórico”, de 2020, que deitou por terra os cuidados de serviços sanitários, dos países ricos mais desenvolvidos e é verdade que ninguém estava preparado, para enfrentar a pandemia de Covid-19, que continua a nos assolar a todos – sem excepção! -, estrangulando e fragilizando atendimentos de Saúde publica, que são considerados mais seguros e avançados…

O ano de 2020, na sua intensidade, foi uma autêntica reprodução imagem da antiga rivalidade geopolítica militar do mundo bipolarizado, entre a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e os EUA (Estados Unidos da América), pois que as novas tensões entre Washinton e Beijing (Pequima, a Capital da China) não foram unicamente comerciais, mas, também, perigosamente: geopolíticas, militares, diplomáticas e, sobretudo, tecnológicas, coincidindo, sempre à volta da emergência da crise do novo coronavírus, Covid-19. Esta nova bipolarização mundial que, de facto, iniciou-se em 1991, empoderou a China de Xi Jinping como potência económica e, mais ainda, como potência de primeiro nível, detentora da alta tecnologia.

O impacto da alta tecnologia chinesa e a emergência do Huawei-China com “metrise” total do 5G (Internet), contribuiu para o desenvolvimento, do conceito de guerra cibernética que, com o domínio da inteligência artificial e suas derivadas, aumentou, as divergências nas “estratégias comerciais sino-americana”, contribuindo para o arranque da “nova guerra fria” entre “China-Estados Unidos”, agudizando rivalidades “Xi versus Trump”, com impacto mundial…

A epopeia da China começou com a comemoração, em 2019, do 70º aniversário da proclamação da República Popular da China, que exibiu, com força, pompa e brio, a sua ascensão a “poderio mundial”, activando o ambicioso projecto-programa, conhecido coma “Rota da Seda”. Em termos competitivos, confirmou o seu papel e “performance” em matéria de inteligência artificial (Tecnologia Informática); manufactura inteligente; robótica, construção de veículos automóveis eléctricos, etc, etc,…

A China investiu muito e com êxito nas novas tecnologias de informação e comunicação, tornando-se, hoje, numa grande plataforma de inovação global, com capacidade para competir e ganhar frente ao tradicional poderio tecnológico Ocidental.

Mas quem está minimamente informado, sobre a potência asiática, sabia – e sabe! -, que a grande estratégia do “Made in China 2025”, estava na agenda de Xi Jinping como prioridade.

E a crise sanitária de Covid-19 não fará protagonismo à ambição globalizante da grande China, protagonizada e planeada por Xi Jinping…

Nesses novos tempos, Cabo Verde, adoptou com mais ou menos rigor as normas básicas recomendadas pela OMS (Organização Munidal da Saúde), para evitar a propagação de Covid-19 e o confinamento deu a sua machadada na nossa economia de sobrevivência, que ficou estagnada com impactos ainda não contabilizados, mas, fazendo sobressair as nossas fragilidades como país muito dependente, aumentando mais a pobreza e a dívida soberana. Estamos na “nova normalidade”, que faz parte do quotidiano do dia-a-dia, da nossa vivência com Covid-19, que como era de esperar continua a infectar e a espalhar-se, por todas estas nove ilhas do arquipélago.

Neste tempo de incertezas, é a recessão visível desta economia de sobrevivência, que, paralisada, empurrou Cabo Verde para as novas soluções de comunicação, como nunca anteriormente, para uma vivência activa “online”, tanto a nível dos privados e particulares, como institucional, atingindo, também, o mundo dos negócios nos mesmos moldes que, praticamente, todos os países, mas, à nossa maneira.

Sim, por uma vez, o mundo inteiro deu e continua a dar, “rendez-vous”, “online”.

O cabo-verdiano, sociável por natureza, ficou obrigado a viver manifestações socioculturais económicas e laborais, no novo contexto imposto pelo controlo de não propagação do maldito coronavírus.

Porém, o novo paradigma é sinal de progresso: ganhamos experiencia com teletrabalho, venda “online”, conferências “online”, e, devemos continuar a onda e utilizar, profissionalmente, a nova tecnologia de informação e comunicação, para aumentar a competitividade desta pequena sociedade de serviços.

Aguardamos, impacientemente, o tratamento médico e a disponibilização da indispensável vacina, criadora do anticorpo protector contra a infecção ao novo coronavírus, mais conhecido por Covid-19.

Mas a vacina chegará quando? Os países ricos já fizeram as suas encomendas. Nós, se ficamos por conta da cooperação e ajuda, iremos aguardar por muito tempo, porque todos os parceiros tradicionais de Cabo Verde, estão aflitos para resolverem seus próprios problemas. Temos que acreditar que, neste assunto, não seremos a prioridade das prioridades e ninguém estava preparada para agir contra a pandemia…

Vivemos e fomos vítima de uma perspectiva populista, desprezando o acontecer mundial, com um “Trumpismo”, rompendo-se com as alianças internacionais do período “pós-guerra fria”: COP25, OTAN, OMS, PNUD, União Europeia e… mesmo os direitos humanos.

Felizmente, que com a escolha do povo americano de Joe Biden para presidente dos EUA, o mundo inteiro, sobretudo os progressistas, respiraram e ficaram, aliviados com a não reeleição de Trump…

Os EUA têm responsabilidades especiais, como primeira potência nuclear do mundo, sobretudo no desarmamento nuclear.

Com “Trump”, o armistício comercial tornou-se mais frágil.

Antes do surgimento de Covid-19, o carácter estrutural das diferenças, não só no comercial com a China, foi um potencial desestabilizador dos cenários diplomáticos e comerciais internacionais e estamos convencidos que o progresso só é possível em democracia e vivência de paz, criadoras de melhores oportunidades para pequenas economias insulares, como nosso caso, desprovidas de recursos outros que a sua cultura e seus homens e mulheres…

Nas escolhas políticas, feita pelo povo nas Eleições Municipais de 2020, a mensagem foi clara: o povo quer mudanças, com a passagem “de promessas a actos” concretos, com cultura de resultados.

Acredito que estamos perante uma boa e nova oportunidade de se operar e fazer valer a justiça social, instalando uma “estratégia que englobe a todos”, com o objecctivo de aumentar a qualidade democrática cabo-verdiana, alicerçando as possibilidades de êxito, se abraçarmos, todos, os “ODS-2030” (Objectivos de Desenvolvimento Sustentável-2030), localmente, articulando todas as demandas cruzadas, de todas as nove ilhas habitadas e todas as regiões, conjugando interesses locais, públicos e privados, pensando sempre: beneficiar a maioria dos cidadãos, ou seja, os povos das nove ilhas habitadas, que esperam e clamampor justiça social.

As metas mais impactantes a serem atingidas, interpelam conflitos de interesse e de poder. O povo quer e exige Saúde, Educação, Trabalho e oportunidade para continuar a fazer e a acarinhar a sua Cultura.

O desenvolvimento ao serviço do povo, tem de ser “o local”, abrangendo, o Económico, o Social e o Ambiental em todas as ilhas de Cabo Verde…

miljvdav@gmail.com

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 700, de 28 de Janeiro de 2021)

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