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Economia

Aviculturas: Empresas nacionais obrigadas a alugar avião para transportar pintos

As empresas da avicultura, na cidade da Praia, estão com imensas dificuldades na importação de pintos a partir de Portugal, devido à indisponibilidade dascompanhias áreas em trazer cargas,  particularmente animais vivos. Diante disso, três empresas viram-se obrigadas a alugar um avião para importar pintos.

As empresas de agropecuária, particularmente as que se dedicam à criação de aves, estão com dificuldades na importação de pintos, a partir de Portugal, para renovar a criação, sobretudo as poedeiras. A indisponibilidade das companhias aéreas em trazer cargas, mormente animais vivos, está na origem deste problema que afecta esse sector da economia há mais de um ano. Conforme o responsável da Avi-Cecília Santos, Eden Batalha, o problema arrasta-se desde 2020, por causa das suspensões dos voos comerciais entre Cabo Verde e Portugal, devido ao surgimento da pandemia da Covid-19.

“Normalmente trazemos pintos de Portugal, mas com o surgimento da pandemia, os voos comerciais foram cancelados em Março de 2020, e quando foi reaberto, meses depois, a TAP, que prestava este tipo de serviço, deu prioridade ao transporte dos passageiros.
Até agora não há voos comerciais para trazer cargas, sobretudo animais vivos”, afirma.

“Desde 2019”, continua, “não conseguimos trazer pintos para renovar a criação. E por causa disso estamos com
enormes problemas na produção de ovos tendo em conta que as galinhas poedeiras têm um período de vida útil de um ano. Registamos uma baixa na produção a volta de 60%”.

E, para atenuar a situação, Batalha avança que as empresas Avi- Cecília Santos, Suinave e a Upapit (irmãos Correia) alugaram um avião, por aproximadamente 7 mil contos, para transportar 36 mil e 400 pintos de Portugal. A carga chegou à cidade da Praia, na terça-feira, 25 de Maio.

Em duas décadas de actividade, segundo esse operador, esta é primeira vez que se freta um avião exclusivamente para trazer pintos. “Para isso tivemos de pagar quase três vezes mais caro do que num voo comercial normal. Essa situação vai afectar também os pequenos produtores e os consumidores porque haverá subida do preço dos produtos.
Neste momento o preço do ovo no mercado já ronda os 18 a 20 escudos cada unidade, quando numa situação normal seria de 13 escudos cada”.

Conforme o nosso interlocutor, o preço do ovo no mercado nacional pode continuar em alta durante muito tempo se a importação de pintos não melhorar. “Se calhar vamos continuar a alugar avião para trazer carga enquanto não houver disponibilidade das companhias que fazem voos comerciais para trazer animais vivos. E, devido a essa
situação, os produtos vão ser vendidos mais caros, sobretudo nas épocas em que há mais procura”.

Entretanto, Eden Batalha diz que a sua empresa pode deixar de importar pintos em voos fretados, caso a TAP ou
outras companhias que efectuam voos comerciais normais entre Portugal e Cabo Verde passar a transportar
pintos. E, nesse caso, pedem uma atenção do Governo no sentido de assegurar e garantir que as companhias aéreas não cancelem as reservas feitas.

“Temos estado a ter imensas dificuldades na importação dos pintos. Por diversas vezes, as reservas de cargas
foram canceladas porque, na última hora, apareceram passageiros e foram incluídos nos voos, e os fornecedores não conseguiram mandar pintos e tiveram que jogar no lixo. Agora, os fornecedores estão a exigir o pagamento antecipado antes de fazer a incubação dos pintos e caso não conseguir enviar, nós os importadores
é que ficamos prejudicados”, conclui.

Contactado pelo A NAÇÃO, na tarde de quarta-feira, 26, a directora dos Serviços de Pecuária, Ana Lina, confirma
que tem conhecimento das dificuldades que os empresários do Sector Aviário estão a enfrentar na importação de
pintos. Entretanto, avança que desconhece de entrada de pedido para a importação de “ovos fertéis” do Brasil, nos
Serviços da Direcção-Geral de Pecuária.

Em face disso, promete inteirar-se do assunto, junto da técnica responsável pelos Serviços de Inspecção, e, depois, “dar um cabal esclarecimento sobre o assunto”.

Upranimal com dificuldade em trazer ovos férteis para incubação no país

O director da Upranimal, uma das empresas produtoras de pintos em Cabo Verde, no seu caso em Santiago, também diz que está com graves problemas em trazer ovos fertilizados de Portugal e Espanha para incubar no país.

“Neste momento temos uma encomenda de cerca de 40 mil pintos dos nossos clientes que são pequenos criadores nacionais. Mas estamos com dificuldades em trazer ovos para fazer incubação nas nossas instalações”, diz Danilson Silveira.

Segundo este operador, os produtores de ovos férteis em Portugal e Espanha não estão com disponibilidade para fornecer ovos à Upranimal. “Estão a priorizar a produção dos seus próprios pintos para responder aos pedidos dos grandes criadores; em Cabo Verde ainda não produzimos ovos férteis, se calhar, esta é uma das coisas que temos que pôr a andar nos próximos tempos. Até porque, na década de 80, havia produção de ovos galados em Cabo
Verde”.

Conforme Danilson Silveira, há possibilidade de trazer ovos e pintos do Brasil que é um dos grandes produtores a nível mundial, mas que ainda não existe acordo entre as autoridades brasileiras e cabo-verdiana que permite a importação e exportação de animais vivos.

“Temos um pedido no Ministério da Agricultura e Ambiente, mas o processo tem sido moroso, por causa de algumas regras internas. O Brasil fornece pintos aos outros países africanos de língua portuguesa, nomeadamente Angola.  Mas as autoridades cabo-verdianas exigem que os fornecedores brasileiros entrem em contacto com elas para manifestar o seu interesse em exportar para Cabo Verde, como se estivéssemos a fazer um favor ao Brasil”.

Segundo Danilson, esse excesso de burocracia não tem ajudado as empresas cabo-verdianas, uma vez que a dimensão do mercado nacional não representa nada para o Brasil, comparativamente com outros mercados.

“Já falei com as autoridades cabo-verdianos apenas para dizer se aceitam o certificado sanitário emitido pelas autoridades brasileiras. Normalmente, nos certificados, estão presentes as doenças que animais importados não são portadores, uma vez que são vacinados; e nós também, enquanto empresários, temos todo o interesse que os animais estejam livres de doenças para que não venham estragar a nossa produção”.

O responsável da Upranimal diz que a morosidade no processo tem prejudicado o negócio da sua empresa, mas também de muitos outros pequenos produtores que adquirem pintos na Upranimal. “Às vezes, a nível da chefia do Governo, há vontade para o processo andar mais rápido, mas quando se chega nas chefias intermédias é que começam a surgir bloqueios. Temos neste momento dificuldades com o transporte das mercadorias via aérea, mas, a nível interno, temos ainda muitas burocracias que estão a dificultar o sector da avicultura em Cabo Verde, e
isso precisa ser sanado”, conclui.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 717, de 27 de Maio de 2021)

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