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Piscina oceânica? Não! Armadilha flutuante, isso sim!

Por: Silas Andrade Leite*

Meados de Fevereiro e com aparato de presenças de representantes de instituições públicas, duas boias seriam lançadas no mar da Laginha pelo Primeiro-Ministro e Ministro do Mar, Ulisses Silva e Paulo Veiga, respetivamente e com cheiro de jogada de marketing eleitoral. A dado momento, o aqui autor em representação da ENAF, abeirou-se do MM e questionando-o sobre as medidas da profundidade da futura piscina, respondeu: “As escolas serão chamadas a pronunciar…”

Com indicação para ser inaugurada a 17.02.21 (antevéspera das eleições legislativas), a mesma só viria a acontecer a 1 de Agosto. Mediante o mesmo cenário no ato de lançamento das bóias e durante a sua intervenção, afirmou ele, Ministro do Mar: “…a piscina oceânica é uma ideia do Ministério do Mar e que será replicado por todas as Ilhas…”. Uma inverdade, pois, a ideia foi sempre da ENAF e muito em particular, do aqui autor. Em encontros tidos com ele, Ministro do Mar Paulo Veiga, esta ideia foi partilhada com o próprio, com base até, no conteúdo de um artigo publicado em 2018 no jornal “A Nação” e do seguinte teor: “PISCINAS OCEÂNICAS …Pensado como solução alternativa à inexistência de piscinas públicas e muito devido à escassez de água doce e aos elevados custos de manutenção, o projecto visa promover em melhores condições de segurança, o ensino/aprendizagem da natação preventiva e de salvamento, para além de outras valências, como a prática da hidroginástica, hidroterapia, hidromassagem, sauna, mergulho de pequena profundidade, saltos de trampolins, entre outros, funcionando, pois, como uma espécie de centro hidroterapêutico nas vertentes educativa, desportiva, profilática, de alta inter-acção social e até cultural se quiser. Muito mais relevante ainda, será o contributo à economia do mar, tão propalado hoje em dia como um dos vectores de desenvolvimento sustentável das ilhas.

Ter-se-à em boa conta, o facto de um espaço aquático do género, poder vir a propiciar novas profissões, como Gestores de piscinas, Instrutores de natação e funções inerentes, Monitores de SPA do mar, para além de outras já existentes, a saber, Salva-vidas, Instrutores de mergulho, etc. Servem as linhas acima, como introdução ao tema “Piscinas Oceânicas”, uma realidade possível nestas ilhas atlânticas. Aproveitando bem as condições naturais das áreas costeiras das nossas baías, podíamos lançar mãos à construção de piscinas oceânicas nos mais variados Concelhos de Cabo Verde. Espaços com características de utilidade pública, as construções de piscinas oceânicas podiam ser assumidos pelas Câmaras Municipais em coordenação com a Administração Central e em parceria com estratos da sociedade civil verdadeiramente interessada, sensibilizada e entendida na matéria e por isso, um óptimo exemplo de sinergias multilaterais.

Com piscinas oceânicas em todos os Municípios mais ou menos próximos da orla marítima, estariam criadas boas condições para a introdução prática da natação no currículo escolar da educação física por um lado e por outro lado, a iniciação a sério da natação desportiva. E aqui, tal como os campos de futebol em relva sintética aceites pela FIFA, devido à escassez de água para rega também a mesma justificação serviria para a FINA na certificação de competições locais, nacionais e internacionais na sã convivência dos ideais olímpicos…”.

Dois dias antes da enganosa inauguração, sob convite, a ENAF representada pelo seu presidente participou em encontro de esclarecimento com substituta repentina do Ministro do Mar, deixando vincada a sua posição no sentido de não participar na gestão da falsa piscina oceânica, enquanto não fosse normalizada a dimensão da profundidade, principal alicerce de qualquer espaço aquático para o ensino/aprendizagem da natação. Defendeu a ENAF que a profundidade da mesma devia ser em plano inclinado com medida mínima de 0,80 metros em altura ou em plano recto de 1.50 metros. Mais uma falha grosseira de entre outras, foi não se ter calculado a integração de “paredes” para viragens de nadadores competidores.

Aquilo como está, com uma profundidade de cerca de 4 metros, representa um iminente atentado à vida das pessoas sem ou com fraco domínio de técnicas de sobrevivência em águas profundas. Para o Ministério do Mar, a área está impedida às crianças. Para a ENAF, qualquer criança que já sabe flutuar e movimentar-se na água, estaria ali muito mais em segurança do que um gigante de 4 metros sem qualquer domínio…

Haja por aí, algum sociólogo em tempo de especialização, para na sua tese, abordar a cidadania ativa na sua relação com o poder político. Perceber e estudar intensamente a essência da cabo-verdianidade, comparada a uma pedra de diamante em bruto quando “dado à luz” e que no seu percurso, obrigado a “rachar pedras” para se sobreviver, vai adquirindo valor até à dimensão de diamante lapidado. Exemplos: Homens e mulheres no desporto, na cultura, na ciência, no associativismo, entre outros. Ao ponto de se questionar como é que um país tão pequeno, consegue estar quase sempre na “boca do mundo” pelos bons feitos. Por outro lado, perceber porque é que homens e mulheres, também “pedras Diamantinas lapidadas” em exercício de cargos políticos, achando terem alcançado o céu nos seus ternos e gravatas de seda, se posicionam nas suas decisões em atitude de apoucamento às iniciativas da cidadania ativa, também “pedra diamantina” nas organizações da sociedade civil. Esta reflexão, tem muito a ver com o agora demissionário Ministro do Mar, Paulo Veiga. Houvesse mais humildade, reconhecimento dos governantes às causas dos agentes defensores de uma sociedade mais justa, equilibrada e equitativa, os indicadores de desenvolvimente deste torrão de todos nós estaria num patamar mais elevado. Respeito, consideração e UNIÂO, precisa-se!

*Presidente da ENAFSALSA

Silatch61@gmail

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