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Economia

Quase 30 anos depois: Santiago Golf Resort…parado mas “não encalhado”

Lançado há 27 anos, o megaprojecto Santiago Golf Resort, que ocupa uma área de 26 hectares, entre os municípios da Praia e da Ribeira Grande, continua no papel. Ao longo de todo este tempo o empreendimento, que deveria comportar dois campos de golfe, sofreu muitas alterações, mas o seu principal promotor– Eugénio Inocêncio – garante que obras arrancarão no próximo mês, o mais tardar.

À semelhança do que vem sendo dito, também no caso do Santiago Golf Resort, Eugénio Inocêncio aponta factores externos, alheios ao empreendimento, para o atraso na concretização daquele, uma vez concluído, era suposto ser o mais emblemático projecto turístico da ilha de Santiago.

Com o quadro internacional, agravado nos dois últimos anos com a pandemia da covid-19 e agora com a guerra na Europa, diz aquele promotor e empresário, “todos os projectos estão a sofrer”… Mesmo assim, faz questão de realçar que “muito em breve” será lançada a primeira pedra para construção do “Lusofonia”, empreendimento que comporta três hotéis dentro dos terrenos do Santiago Golf Resort, que “será um passo em frente” nesse megaprojeto.

O “Lusofonia”, cujo lançamento da primeira pedra deveria acontecer neste mês de Março, conforme a mesma fonte, comporta 640 quartos. Contudo, diante do novo quadro, a mesma vai dizendo que não sabe se será possível cumprir também este novo prazo. “Já negociamos o acordo com as empresas construtoras, que são conhecidas no mercado, e terá a marca do grupo Meliá”.

Ou seja, explica, “faltam apenas alguns pormenores para podermos fixar a data do lançamento da primeira pedra que será neste mês de Março ou, eventualmente, no mês de Abril”.

“São hotéis diferenciados, contíguos, com serviços partilhados, mas diferenciados em termos de mercado e de objeto. Um dos hotéis é diplomático, especializado em reuniões e conferências internacionais e que vai dotar a cidade da Praia dessa capacidade fazer reuniões internacionais; o hotel contíguo será um spa-hotel e também como uma componente de saúde; e o outro será um hotel familiar”, acrescenta.

Os três hotéis do “Lusofonia”, conforme Eugénio Inocêncio trarão, “em princípio”, 50 mil turistas/ ano para a ilha de Santiago.

“Santiago, antes da pandemia, estava a receber cerca de 80 mil turistas/ ano”.

A culpa é da crise

Eugénio Inocêncio culpa a crise de 2008 pelo atraso na implementação do Santiago Golf Resort.

Contudo, A NAÇÃO fez questão de lhe recordar que lançamento da primeira pedra para a construção desse empreendimento aconteceu 10 anos antes.

“Normalmente, nos grandes projectos e nos grandes empreendimentos o tempo conta de forma diferente.

Nós tínhamos tudo preparado e foram longos anos de trabalho para o arranque do primeiro hotel, que seria o hotel do golfe, com o campo de nove buracos e as primeiras moradias, em 2008, nas vésperas da grande crise subprime”.

Na altura, diz também, ele e os seus parceiros tinham estabelecido acordos com empresas internacionais e compradores, mas “essa grande crise bloqueou o processo”.

Reconhecendo o embaraço, Inocêncio lembra que o turismo, de uma forma global, é um negócio que “está fortemente dependente do estado da economia mundial”. E, por isso, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia vem introduzir um novo elemento de perturbação no desenvolvimento do sector à escala global, assim como a pandemia introduziu também esse elemento de perturbação.

“A crise de 2008 foi uma perturbação muito maior do que estas duas últimas e levou muitos anos para a reconfiguração do turismo em todo o mundo”, diz.

No caso do Santiago Golf Resort, a crise de 2008 “teve um efeito directo”, concretamente, na concretização desse empreendimento que já passou por várias vezes e mãos. Um dos seus principais parceiros, que era uma empresa irlandesa, foi à falência.

“Nós, felizmente, conseguimos aguentar o barco e continuar com o projecto e penso que estamos neste momento, de facto, apesar destas duas últimas crises (covid-19 e a guerra na Ucrânia), em condições de avançar”, garante.

Golfe é para manter

Pese embora todas as alterações que o projecto inicial do Santiago Golf Resort foi tendo, Eugénio Inocêncio garante que o conceito golfe é para manter, com a construção dos dois percursos inicialmente previstos.

“O golfe é uma infraestrutura muito importante do Santiago Golfe Resort”, garante o entrevistado ao A NAçÃO, explicando que já foi construído o interceptor de esgotos que vai de Santiago Golf Resort para o ETAR da Praia e a conduta adutora da água tratada para os campos de golfe.

Mas, segundo Inocêncio, para se construir o campo de golfe é preciso que os hotéis estejam a ser trabalhados para ter os turistas que irão utilizar os campos. “O golfe é uma infraestrutura que vai receber os turistas e da parte da imobiliária turística que vai receber os donos das moradias.

Financiamento

O financiamento da Meliá Lusofonia, que deverá arrancar ainda este mês, “já está garantido”, assegura também Eugénio Inocêncio, avançando que se trata de um empreendimento de 96 milhões de euros e que “já temos o acordo assinado com Afreximbank”.

Para os campos de golfe e da cidade desportiva que serão construídos nos terrenos da Santiago Golf Resort, este promotor afirma que os financiamentos deverão ser garantidos por bancos especializados nessas áreas.

De projecto em projecto…

Esta não é a primeira vez que, quando confrontado, Eugénio Inocêncio alega as mais variadas razões para não a concretização, ainda, do Santiago Golfe Resort.

Os prazos, para a realização do empreendimento, cuja primeira pedra data de 199xx, foram sendo todos queimados. O SGR é, para os seus críticos, um exemplo de “turismo de maquete” que muita escola fez em Cabo Verde desde que o país se abriu para o turismo de grande escala. Tudo lindo e maravilhoso na maquete, mas sem dinheiro para a sua concretização, já que dependente de formas indirectas de financiamento.

No caso do SGR, há quem questione, igualmente, se diante de tantos incumprimentos, o Estado não deveria reaver os terrenos cedidos quase de graça ou a “preço de amigo” e dar um outro rumo a uma tão vasta parcela de terra, que vai de uma parte da Praia à Ribeira Grande.

Já em Dezembro de 2014, numa entrevista também ao A NAÇÃO, Eugénio Inocêncio tinha garantido que grupo SGR iria arrancar com a construção, no ano seguinte, de um hotel de 800 quartos, que, segundo os promotores, permitiria receber à volta de 30 mil turistas ano. As obras de construção do hotel, que seria construído num lago artificial, seriam concluídas num prazo de 14 meses.

Sete anos depois, como se pode depreender, essa infraestrutura hoteleira, que deveria criar cerca mil postos de trabalho, directos e indirectos, não saiu do papel.

De lembrar também que, em vez do “Lusofonia”, cuja a primeira pedra deverá ser lançada no decurso deste mês, o projecto de 2015 que deveria ficar concluída em 14 meses, era denominado Cabo Verde Lagoon Hotel. Estava, então, orçado entre os 70 e 80 milhões de euros.

Eugénio Inocêncio, mais um grupo de empresários americanos, liderados por Albert Devaul, e um conjunto de empresários portugueses, liderados pelo madeirense Pedro Ventura, eram os promotores desse empreendimento que prometia imprimir fôlego novo ao turismo na ilha de Santiago.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 759, de 17 de Março de 2022

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