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De vez em quando: História, história… do cavalo do escocês e dos trabalhadores do sector do Turismo

Por: Jorge Morbey*

Era uma vez…  um proprietário rural escocês que tinha um cavalo de tracção, de raça Clydesdale,  para transportar todo e qualquer tipo de carga pesada. 

Ao longo do séc. XX o progresso, na silvicultura e na pecuária, determinou a substituição de cavalos por tractores. Com o escocês da nossa história aconteceu o contrário. Homem de muitas contas,  enchia o depósito do tractor, mas o raio do combustível evaporava, em menos de uma semana. Não descansou enquanto não  vendeu o tractor.

Vendeu o tractor e comprou um possante cavalo escocês.

Logo na primeira semana, feitas as contas, o escocês exultou de contentamento. A alimentação do cavalo era, sem dúvida,  menos onerosa do que o combustível  que o tractor consumia. E o escocês pensou assim:

– Ainda posso reduzir os meus custos de produção…

E decidiu:

– Para economizar, cavalinho, vais deixar de comer todos os dias.

E o cavalo passou a ser alimentado dia sim, dia não.

Ao fim de um mês, o escocês, feitas as contas, exultou de alegria, novamente. Os custos de produção tinham baixado substancialmente. E resolveu:

– Lindo cavalinho, estás no bom caminho. Mas podes gastar ainda menos do meu dinheiro.

Não hesitou:   

E o cavalo passou a ser alimentado apenas, de dois em dois dias.

Empolgado pela sua própria ganância e avareza, o escocês surpreendeu-se amargamente com a morte do cavalo, ainda antes de ter chegado à meta que estabelecera de o alimentar, apenas uma vez por semana.

E exclamou:

– Agora que os custos de produção estavam em níveis razoáveis, foste morrer, estapor do diabo!

E a históra acabou.

Mas, o que está a acontecer na nossa terra, é o princípio do fim da inculpação sistemática dos trabalhadores por toda e qualquer crise que faça abanar a Economia e aumentar o desemprego.

Na Boavista, a pandemia de Covid 19 fez encerrar algumas instalações e serviços de turismo. Os trabalhadores do Royal Horizon manifestaram-se, pela situação em que se encontram, desde Abril de 2019. Lay of, primeiro, com 70%, e, desde o princípio deste ano, 50% do salário.  Segurança Social, nem por um canudo.

É claro que, para a entidade patronal, 50% é demais! Para quem não faz nada!

Mas o problema é que, ainda, não nos encontramos numa sociedade robotizada, em que o robot só consome energia quando é accionado para a execução das tarefas previstas na sua programação.

Até lá, que bom seria se o empresariado do sector do Turismo, e não só, pudesse ler a Doutrina Social da Igreja…

Talvez ficasse em condições de enfrentar melhor a concorrência que se avizinha do sector de Turismo de Portugal e, particularmente, do Algarve.

*Cabo-verdiano radicado em Macau, onde foi presidente do Instituto Cultural e Professor da Universidade de Ciência e Tecnologia

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 782, de 25 de Agosto de 2022

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